Chegamos ao último post (pelo menos este ano) relembrando os lançamentos de anos passados, sendo que este último post vai voltar vinte anos no tempo, até o ano de 1996, para mostrar os destaques de então. Para conferir os posts sobre os anos de 1966, 1976 e 1986, veja aqui, aqui, aqui e aqui (lançamentos nacionais de 1986).
O ano de 1996 foi ano de Jogos Olímpicos, realizados em Atlanta, nos EUA. O Brasil teve destaques no basquetebol feminino, com a medalha de prata; a vela com as medalhas de ouro de Robert Scheidt e Torben Grael; e o voleibol de praia, com medalha de ouro para a dupla Jaqueline Silva e Sandra Pires. O futebol masculino, apesar da medalha de bronze, decepcionou ao perder na semifinal para a Nigéria, que conquistou a medalha de ouro em cima da Argentina. No cinema, o Oscar premiou o filme "O Paciente Inglês", enquanto que as bilheterias foram mais rentáveis para o filme "Independence Day", o mais assistido do ano, seguido por "Twister" e "Missão: Impossível". No mundo musical, tivemos o retorno do Kiss a sua formação original, usando novamente maquiagem, com uma turnê mundial muito bem sucedida. Se o Kiss voltava a reinar, os Guns 'N' Roses começavam sua queda, com a saída de Slash da banda. No Brasil, tivemos mais uma edição do festival Hollywood Rock, que neste ano contou com um grande elenco, incluindo White Zombie, Smashing Pumpkins, The Cure, Black Crowes, e a grande atração do festival: a dupla Jimmy Page e Robert Plant, tocando um repertório dedicado a sua ex-banda, o Led Zeppelin. Quem foi, saiu extasiado. Duas grandes perdas no mundo musical: Renato Russo, vocalista da Legião Urbana, não resistiu às complicações da AIDS; e os Mamonas Assassinas, vítimas de um acidente de avião.
Sem mais lero-lero, vamos aos grandes lançamentos do ano de 1996!
Napalm Death - "Diatribes" - os reis do grindcore chegavam aqui ao sexto álbum de estúdio, aumentando a experimentação iniciada no álbum anterior, "Fear, Emptiness, Despair". Quando falo de experimentação, devo dizer riffs mais evidentes, velocidade menor que a da luz, estruturas mais ritmadas, se afastando (um pouco) de sua sonoridade tradicional. Podemos destacar, nesta nova fase de experimentação, a faixa de abertura - "Greed Killing", e as faixas "Ripe For The Breaking", "Take The Strain" e a faixa-título. Depois do lançamento do álbum, a banda se desentendeu com o vocalista Barney Greenway, que acabou expulso do grupo. Acabou havendo uma troca de vocalistas com o Extreme Noise Terror, que não deu muito certo: no ano seguinte, Barney retornou ao grupo, de onde não saiu mais. E nem pode: sua voz são uma marca característica desta grande banda!!
NOFX - "Heavy Petting Zoo" - com o sucesso da nova onda punk iniciada com os álbuns "Dookie", do Green Day, e "Smash", do Offspring, outras bandas punk conseguiram espaço no mainstream. Este é o caso do NOFX, banda formada em 1983 e que grava discos desde 1988. Já tínhamos falado deles no post de 1994, álbum "Punk In Drublic", e agora voltamos a eles. Este álbum foi o primeiro a conseguir entrar na parada norte-americana, ainda que na tímida posição de número 63. O estilo é mais ou menos o mesmo: punk acelerado e letras altamente debochadas (na capa do álbum já dá pra sacar o humor sarcástico da banda). Destaque para as faixas "Philty Phil Philanthropist", "Bleeding Heart Disease", "Release The Hostages" e "What's The Matter With Kids Today?". Nesta época, a banda estava na gravadora Epitaph (ver mais abaixo, no texto sobre o disco do Bad Religion), e com o passar do tempo e a perda de popularidade da nova onda punk, a banda migrou para o selo Fat Wreck Chords, do próprio vocalista da banda, Fat Mike. A banda se mantém firme e forte na ativa, lançando música e excursionando. Já podem ser considerados baluartes do movimento punk rock!
Deep Purple - "Purpendicular" - este foi apenas o segundo disco em toda a carreira do Deep Purple a não contar com Ritchie Blackmore (o primeiro tinha sido "Come Taste The Band"). Em 1993, após a gravação do álbum "The Battle Rages On...", Ritchie abandonou a banda no meio de uma turnê e foi substituído por Joe Satriani. Satriani completou a turnê para a banda até 1994, mas ainda estava sob contrato com outra gravadora e relutava para abandonar sua bem sucedida carreira solo. Declinou. Então, a banda resolveu acolher Steve Morse, ex-Dixie Dregs e Kansas. Morse rejuvenesceu a banda, trouxe novos ares e novos elementos musicais, dando fôlego para o Deep Purple durar outros vinte anos. Logo na abertura, com "Vavoom: Ted The Mechanic", Morse mostra a que veio e entrega alguns novos elementos de sua contribuição para a banda. Outros grandes destaques são "Sometimes I Feel Like Screaming", uma lentinha deliciosa que agradou em cheio aos fãs da banda; e o puta riff de "Somebody Stole My Guitar", provando que a banda tinha bastante lenha para queimar. Foi esta nova formação que excursionou no ano seguinte, no Brasil, e foi quando finalmente consegui ver o Deep Purple ao vivo (depois vi mais algumas vezes...). Durou até 2002, quando o grande Jon Lord resolveu sair da banda para criar suas peças clássicas - Don Airey tem substituído Lord muito bem, obrigado. O grande mestre dos teclados faleceu em 2012, uma das maiores perdas para os fãs da banda. O mais recente álbum de estúdio da banda é "Now What?!", que agradou muito aos fãs (e a mim também, confira aqui). Que os coroas aguentem mais alguns anos excursionando, ainda reinam nos palcos mundo afora!!
Sepultura - "Roots" - este foi o apogeu de sucesso do Sepultura no exterior. Entrou no Top 40 da parada norte-americana e chegou a conseguir disco de ouro nos EUA (vendas de quinhentas mil cópias). O álbum aprofundou as influências de música brasileira e acabou se tornando a base para o estilo nu metal que estava surgindo - o produtor deste disco, Ross Robinson, é um dos pais do estilo e acabou trabalhando com as principais bandas do movimento: Korn, Limp Biskit, Slipknot. Podemos dividir o álbum por partes: logo no começo, a banda desce o pé e entrega canções pesadas, intensas, que ficavam ainda mais nervosas ao vivo. "Roots Bloody Roots", "Attitude" e "Cut-Throat" compõem esta primeira parte. Então, a banda entra em uma parte que explorou musicalidades e elementos novos a sua música, incluindo convidados nas canções. Destaque para as canções "Ratamahatta" e "Lookaway", com participações de Carlinhos Brown, Mike Patton e Jonathan Davis (vocalista do Korn). Então temos a terceira parte, toda a experimentação com os índios xavantes, registrada na canção "Itsári". A versão brasileira do álbum trazia duas covers arrasadoras como faixas-bônus: "Procreation (Of The Wicked)", cover do Celtic Frost; e "Sympton Of The Universe", cover do Black Sabbath. Após uma longa turnê suportando o álbum, a banda implodiu com uma briga interna que colocou Max Cavalera de um lado e os demais membros do outro. Max acabou saindo da banda e formando o Soulfly. O Sepultura acabou levando um bom tempo procurando um novo vocalista, encontrando o norte-americano Derrick Green. Ambas as bandas (Soulfly e Sepultura com Green) sofreram com queda de popularidade e vendas. Pessoalmente, eu acabo preferindo os trabalhos lançados pelo Sepultura; acho que o Soulfly se prendeu muito tempo na sonoridade deste álbum, tendo melhorado nos três ou quatro últimos trabalhos. Após a saída de Igor, ele se reconciliou com o irmão e montou o Cavalera Conspiracy, que já lançou três álbuns de estúdio. Sempre se houve rumores de uma reunião da formação clássica da banda; entretanto, as desavenças entre Max e Andreas ainda são muito grandes; as feridas ainda estão abertas e parecem estar longe de cicatrizar.Quem sabe a gente ainda veja uma reunião da banda no futuro? Só o tempo dirá!
Bad Religion - "The Gray Race" - depois do sucesso do álbum "Smash", do Offspring, a gravadora Epitaph, do guitarrista Brett Gurewitz, passou a dar muito lucro, e também muito trabalho. O usual desgaste de muitos anos de convívio entre os membros da banda também contou, e foram os principais motivos que levaram à saída de Brett do Bad Religion. Para substitui-lo, a banda convocou Brian Baker, que já tinha tocado com o Minor Threat. Com produção caprichada de Ric Ocasek (vocalista do The Cars), o álbum trouxe a banda à sua posição mais alta na parada norte-americana até então (56ª posição) e mais alguns sucessos, como as canções "A Walk", "Punk Rock Song", "Pity The Dead" e "Ten In 2010". O sucesso do álbum fez a banda entrar em uma grande turnê, e foi nesta época que eles tocaram pela primeira vez no Brasil, no festival Close-up Planet (junto com Sex Pistols, Silverchair e outros). Muitos fãs da banda tiveram seu primeiro contato nesta turnê, aumentando seu público de shows. A banda seguiu com esta formação por algum tempo, até que em 2001 o guitarrista Brett Gurewitz retornou à banda. Ele não costuma excursionar com a banda, apenas grava os álbuns e toca com eles os shows na California, onde mora. Recentemente, o membro de longa data Greg Hetson teve problemas pessoais e teve que sair da banda. Foi substituído por Mike Dimkich. O baterista Brooks Wackerman foi outro membro que saiu recentemente do Bad Religion - ele acabou entrando no Avenged Sevenfold. Seu substituto foi Jamie Miller. Um dos grupos mais influentes na cena punk rock, o Bad Religion segue na ativa, e tocou no festival Lollapalooza deste ano - pra variar, fez um show arrasador!
Kiss - "Kiss Unplugged" - desde o lançamento de "Revenge", em 1992, que o Kiss vinha em um crescente com a formação consolidada com Eric Singer na bateria e Bruce Kulick na guitarra, adicionada dos dois membros que nunca saíram, Gene Simmons e Paul Stanley. Uma turnê de sucesso levou ao lançamento do álbum ao vivo "Alive III" e a uma nova turnê extendida, a Kiss Convention Tour, com um dia inteiro de eventos dedicados à banda, incluindo um show acústico. Em um destes eventos, reencontraram o ex-baterista Peter Criss, tocando algumas músicas com eles. Este foi o ponto de partida deste álbum acústico, e também da participação dos ex-membros, tanto Criss quanto Ace Frehley. O repertório da apresentação cobre diversas fases da banda e inclui faixas mais obscuras, não tanto conhecidas, como "Goin' Blind", "Sure Know Something" e "A World Without Heroes". No final, Peter Criss canta "Beth", Ace Frehley canta "2,000 Man" (cover dos Rolling Stones) e a banda toda, incluindo os membros novos e antigos, canta os clássicos "Nothin' To Loose" e "Rock And Roll All Nite". Uma das melhores apresentações do programa MTV Unplugged, acabou gerando tremenda repercussão que levou a banda a retornar com a formação original, novamente usando maquiagem, entrando em uma turnê mundial que foi a mais bem sucedida daquele ano. Desde então, a banda tem sempre se apresentado com maquiagem, apesar de não contar mais com os membros da formação original Criss e Frehley; Eric Singer retornou à bateria, e Tommy Thayer assumiu a guitarra. Ainda na ativa e fazendo turnês constantemente, o Kiss não parece querer encerrar a carreira tão cedo!
Rage Against The Machine - "Evil Empire" - depois de revolucionar a música com seu álbum de estreia, e excursionar bastante pelo mundo afora, o Rage Against The Machine retornou ao estúdio para lançar o tão esperado sucessor de seu auto-intitulado disco de estreia. Quatro anos depois, a banda retornou com um disco de alta qualidade, que foi direto para o topo da parada norte-americana, tendo alcançado disco triplo de platina - três milhões de cópias vendidas. O álbum já abre com as incendiárias "People Of The Sun" e "Bulls On Parade", os principais singles do disco e presenças garantidas nos shows da banda dali em diante. A sonoridade se manteve a mesma, com um produção mais caprichada, créditos para Brendan O'Brien (o mesmo produtor da maioria dos discos do Pearl Jam, também trabalhou com Stone Temple Pilots, Korn, Limp Biskit e Audioslave, além dos discos mais recentes do AC/DC). Além dos singles citados, a banda incendeia o ouvinte nas canções "Vietnow", "Revolver" e "Year Of Tha Boomerang". Atualmente, três quartos dos membros da banda montaram uma nova banda, Prophets Of Rage, com os vocais ficando sob a responsabilidade de Chuck D (do Public Enemy) e B-Real (do Cypress Hill). Zakk de La Rocha, o vocalista original do grupo, segue em carreira solo. Só o tempo nos dirá se voltaremos a ver uma reunião da formação original. Mas eu mantenho a esperança de vê-los ao vivo um dia!
Soundgarden - "Down On The Upside" - depois de provar o grande sucesso do álbum anterior, "Superunknown", o Soundgarden deve ter gostado da sensação e partiu para um álbum com ainda mais flertes com o pop, visivelmente menos pesado que os anteriores, e que acabou levando-os à segunda posição da parada norte-americana, vendendo cinco milhões de cópias nos EUA. Não se trata de um disco ruim, entretanto de qualidade inferior aos anteriores, mais encorpados. Destaque para as canções "Pretty Noose", "Rhinosaur", "Blow Up The Outside World" e "Tighter & Tighter". Depois da turnê que promoveu este álbum, a banda implodiu e se separou: Chris Cornell foi parar no Audioslave; Matt Cameron foi para o Pearl Jam; Ben Shepherd e Kim Thayil fizeram algumas participações aqui e ali, mas não entraram nem montaram nenhuma banda famosa. Em 2010, o Soundgarden se reuniu novamente, com sua formação clássica, e em 2012 gravou um novo álbum de estúdio: "King Animal". Que se mantenham na ativa e venham mais vezes ao Brasil!!
Cannibal Corpse - "Vile" - este foi o primeiro álbum da banda gravado pelo vocalista George Fisher, ex-Monstrosity, que substituiu o vocalista original Chris Barnes, que após ter sido demitido do Cannibal Corpse, montou o Six Feet Under. Fisher trouxe um vocal ainda mais poderoso e gutural, e a banda acabou se adaptando perfeitamente ao novo vocalista, intensificando ainda mais seu ataque, que passou a ser ainda mais letal. Destaque para as canções "Devoured By Vermin", "Disfigured", "Puncture Wound Massacre" e "Eaten From Inside". O Cannibal Corpse mantém George como vocalista até os dias atuais, e tem feito poucas trocas de integrantes nos últimos anos: a cozinha é a mesma desde a formação da banda, com o baterista Paul Mazurkiewicz e o baixista Alex Webster; nas guitarras, Rob Barrett entrou na banda em 1993, saiu em 1997, mas retornou em 2005; já Pat O'Brien está na banda desde 1997. Seu último álbum de estúdio saiu em 2014, e se chama "A Skeletal Domain". Sem tréguas, a banda se mantém fiel ao death metal por mais de 25 anos!
Pantera - "The Great Southern Trendkill" - depois de alcançar o topo da parada com o álbum anterior, a banda acabou parcialmente dividida: de um lado, Phil Anselmo e seu comportamento errático, com abusos de álcool e heroína; de outro, os irmãos Abott, que queriam total atenção na banda. Anselmo chegou a iniciar um projeto paralelo, o Down, deixando sua banda original de lado. Com pressão dos irmãos e da gravadora, a banda foi levada a gravar seu novo disco de estúdio. Entretanto, a divisão continuou durante as gravações, com os irmãos e o baixista Rex Brown no Texas e Anselmo em New Orleans. Felizmente, no final das contas a banda lançou outro grande disco, se aprofundando no estilo agressivo que iniciaram no disco anterior, sem esquecer de explorar algumas partes acústicas e mais lentas. Do lado agressivo, temos a faixa-título, onde Anselmo coloca os pulmões pra fora com tudo; "Drag The Waters", com direito a um portentoso riff de Dimebag; e "Suicide Note Pt. II". Do lado acústico e lento, temos "10's", "Suicide Note Pt. I" e "Floods". A crise na banda iria aumentar até o ponto em que Phil Anselmo iria dedicar seu tempo aos projetos paralelos, negligenciando o Pantera totalmente. Os irmãos Abott resolveram criar sua própria banda, sem Anselmo: o Damageplan. Em um dos shows da banda, promovendo seu primeiro disco, um louco varrido entrou armado e assassinou o guitarrista Dimebag Darrell. Uma perda absurda e precoce de um grande talento do heavy metal. Louvemos o legado que ele deixou, diversos álbuns de imensa qualidade!!
Slayer - "Undisputed Attitude" - este é um álbum pouco apreciado pelos fãs mais tradicionais do Slayer, mas eu, particularmente, o adoro, e acho que agora que não temos mais Jeff Hanneman entre nós, temos que dar muita importância a ele. Jeff era o mais influenciado por punk na banda (sua guitarra sempre teve o símbolo dos Dead Kennedys), e deve ter insistido muito para eles dedicarem um disco inteiro ao estilo. As bandas escolhidas pelo Slayer não foram as mais conhecidas como Ramones ou Sex Pistols; a banda explorou grupos de pouco ou nenhum sucesso, como Verbal Abuse, Minor Threat, G.B.H. e D.R.I.. Duas canções do disco foram compostas pelo próprio Hanneman, num projeto paralelo que ele teve chamado Pap Smear (ao lado de Dave Lombardo e do guitarrista Rocky George, ex-Suicidal Tendencies). No final do disco, a única música realmente do Slayer: "Gemini", um petardo fulminante da banda, e que foi tocada por um longo tempo nos shows do grupo. Se você quer prestar tributo a Jeff Hanneman, considere fortemente este disco, que contém duas composições só dele e diversas outras que influenciaram muito sua musicalidade agressiva, uma das características mais fortes do Slayer!
Metallica - "Load" - depois da guinada heavy metal no disco anterior, e uma turnê gigantesca e estafante, o Metallica tirou algum tempo de descanso durante o ano de 1994, antes de retornar ao estúdio no ano seguinte, com o mesmo produtor, Bob Rock, para gravar o sucessor do famoso disco preto. Quando lançado, causou talvez o maior impacto possível na cena heavy metal. Antes mesmo de escutar o álbum, você sente a mudança no logotipo da banda, amenizado, e na capa estranha, uma obra de arte feita com uma mistura de sêmen e sangue. O visual da banda também mudou, com cabelos cortados, explorando o glam e tentando chocar - o famoso beijo de Lars e Kirk, por exemplo. Musicalmente, a banda abandonou o ataque matador que ainda existia no disco anterior, abraçando uma levada mais hard rock com pitadas alternativas e até um pouco de country. E também fez escolhas ruins nos singles que promoveram o álbum: a fraquíssima "Until It Sleeps"; a amenizada "Hero Of The Day"; a balada country "Mama Said"; apenas a última escolha para single traz maior qualidade: "King Nothing" (uma letra "homenageando" Axl Rose e suas excentricidades). As melhores músicas do álbum, entretanto, ainda trazem qualidade e valem a audição: "2 x 4", "The House Jack Built", "Bleeding Me", "The Outlaw Torn". Apesar de toda a polêmica, o álbum estreou direto no topo da parada norte-americana e conseguiu alcançar a marca de cinco milhões de cópias vendidas. O Metallica seguiria polemizando e enfrentando problemas na carreira: desde lançamentos sem o devido punch, sem a devida qualidade de gravação, a saída de Jason Newsted, o processo contra o Napster... A banda só conseguiu se recuperar e ganhar de volta parte de seu prestígio dentro da cena heavy metal em 2008, com o lançamento de "Death Magnetic" (que não escapou de alguma polêmica, graças ao excesso de compressão e volume muito alto, distorcendo tudo...). Atualmente, estamos na expectativa de um novo álbum de estúdio da banda, que não lança nada novo há oito anos. Vamos torcer para se concentrarem na música, e para estarem inspirados. Precisam de um álbum de qualidade para se provarem ainda relevantes na cena heavy metal!
Carcass - "Swansong" - continuando com o processo que adicionou musicalidade ao Carcass, este álbum deveria ter saído por uma grande gravadora, a Columbia, mas os problemas se acumularam, o lançamento do disco atrasou demais (deveria ter sido lançado no ano anterior, 1995) e acabou custando caro para a banda, que não suportou todos os problemas e acabou encerrando as atividades antes mesmo do disco ter sido lançado. De volta à gravadora Earache, o álbum foi lançado e se saiu bem, dadas todas as condições apresentadas. Entretanto, como a banda já tinha se desfeito, não houve turnê promocional. Destaques para as canções "Keep On Rotting In The Free World", "Cross My Heart", "Generation Hexed" e "R**k The Vote". Depois de dez anos de hiato, o Carcass retornou com a formação quase original, incluindo Michael Amott, que tinha fundado o Arch Enemy durante a década fora da banda. Eles realizaram uma bem sucedida turnê de reunião, e em 2013 lançaram (já sem Amott, que voltou a dar atenção a sua banda) um novo álbum de estúdio, chamado "Surgical Steel", que conseguiu boas vendas e recuperou o prestígio da banda. Eles ainda conseguiram uma vaga em uma grande turnê, ao lado do Slayer e do Testament. Que continuem gravando e excursionando, a banda ainda tem muito a nos oferecer!
Zakk Wylde - "Book Of Shadows" - depois de ter gravado três álbuns ao lado do madman Ozzy Osbourne, Zakk Wylde se arriscou em uma nova banda, Pride & Glory, e quase entrou para o Guns 'N' Roses. Zakk participou de ensaios junto com Axl Rose e seus asseclas, e foi cotado para substituir ambos os guitarristas na época (Slash e Gilby Clarke). Acabou não substituindo ninguém, perdeu a turnê de divulgação do álbum "Ozzmozis", de Ozzy, e resolveu partir para a aventura de lançar um disco solo. Já tinha experimentado o "heavy metal sulista" no Pride & Glory, e resolveu partir para uma sonoridade acústica, no estilo de alguns de seus ídolos, como Neil Young. O disco conta com James Lomenzo no baixo (Lomenzo também tocou com Zakk no Pride & Glory) e traz excelentes canções como "Road Back Home", "Way Beyond Empty", "Dead As Yesterday" e "1,000,000 Miles Away". Não alcançou o sucesso merecido mas possui uma qualidade que merece a sua atenção. O blog já tinha resenhado, com mais detalhes, este álbum - confira aqui. Recentemente, Zakk resolveu revisitar o espírito e a musicalidade e lançou uma continuação deste álbum - "Book Of Shadows II". Mais uma vez, acertou a mão: o álbum novo é muito bom!
Screaming Trees - "Dust" - depois de muito sucesso com o álbum anterior, "Sweet Oblivion", de 1992, a banda excursionou bastante, e somente em 1995 voltaram ao estúdio para gravar seu sucessor. O resultado foi este álbum, mais introspectivo, explorando musicalidades diversas, mais maduro também. Destaque para as canções "Halo Of Ashes", "All I Know", "Dying Days" (esta conta com solo de Mike McCready, do Pearl Jam) e "Sworn And Broken". O disco acabou não repetindo o mesmo sucesso do disco anterior, e tornou a vida da banda mais difícil. Depois da turnê, eles deram um tempo para o vocalista Mark Lanegan gravar um disco solo, e quando voltaram não conseguiram uma gravadora para bancar o próximo álbum de estúdio. O resultado foi o fim da banda, em 2000. Somente o vocalista Mark Lanegan conseguiu sucesso com sua carreira solo; os demais membros patinaram em projetos pequenos, sem muito sucesso. Uma curiosidade foi a participação do baterista Barrett Martin em discos de Nando Reis, como "A Letra A". Um álbum com sobras de estúdio do Screaming Trees foi lançado em 2011. Chama-se "Last Words: The Final Recordings" e foi produzido por Jack Endino e pelo baterista da banda, Barrett Martin.
The Black Crowes - "Three Snakes And One Charm" - a turnê do álbum anterior, "Amorica", desgastou bastante as relações entre os membros do Black Crowes, em especial dos irmãos Robinson. Este desgaste só piorou com o tempo, mas foi parcialmente recuperado para a gravação deste álbum, que marca uma musicalidade mais estendida, uso de metais, um disco mais introspectivo por assim dizer. Destaque para as canções "Nebakanezer", "One Mirror Too Many", "Girl From A Pawnshop" e "Better When You're Not Alone". O álbum não repetiu as vendas dos discos anteriores, e a banda começou a implodir, iniciando mudanças em sua formação: no ano seguinte, 1997, o baixista Johnny Colt e o guitarrista Marc Ford deixaram a banda (Marc ainda retornaria à banda em 2005, mas sairia novamente). Atualmente, a banda está em hiato, por novas desavenças entre os irmãos Chris e Rich Robinson. Uma pena, esta é uma banda que tem uma musicalidade incrível e que eu adoraria ver ao vivo novamente. Quem sabe, a esperança é a última que morre!
Alice In Chains - "MTV Unplugged" - depois de dois anos e meio sem tocar ao vivo, o Alice In Chains reapareceu para gravar este show acústico para a MTV, explorando mais uma vez o formato que já tinha sido experimentado nos EPs "SAP" e "Jar Of Flies". Além de incluir canções lançadas acústicas originalmente, a apresentação também incluiu os clássicos da banda, como "Down In A Hole", "Angry Chair", "Rooster" e "Would?". Dá pra perceber, assistindo ao show, que Layne Staley estava mal e entregue ao vício na heroína. Para os fãs da banda, esta é uma apresentação muito especial: é uma das últimas com Layne Staley nos vocais. O Alice In Chains ainda faria quatro shows abrindo para o Kiss (novamente maquiado) mas, após uma overdose de Staley, a banda foi forçada a cancelar as apresentações restantes e entrar em um longo hiato. Ele então passou a não mais sair de casa e, totalmente entregue ao vício nas drogas, acabou falecendo em 2002 - ele foi encontrado morto em sua casa duas semanas após o falecimento. O Alice In Chains ainda levou algum tempo, mas retornou à ativa com um novo membro, William DuVall, e já lançou dois álbuns de estúdio com ele. Dois belos discos, recomendo a todos os fãs da banda!!
Pearl Jam - "No Code" - este álbum foi uma espécie de quebra de paradigma para o Pearl Jam. Novas sonoridades foram exploradas, muita experimentação, um som de garagem, e também muito chiado de sua base de fãs, que apesar de ter colocado o disco no topo da parada norte-americana, também rapidamente fez ele despencar parada abaixo. As vendas também não foram as esperadas, com apenas um disco de platina, bem abaixo dos números dos três álbuns anteriores. Destaque para "Hail, Hail" e "Habit", onde a banda não experimentou muito e entregou canções rock de primeira; "Smile", uma balada com influências de folk e Neil Young, boas guitarras e um belo refrão; e "Who You Are", canção com grande levada. Devido à briga com a Ticketmaster, a banda promoveu muito pouco este álbum ao vivo, o que pode ajudar a justificar o mal resultado de vendas. O Pearl Jam lançou alguns álbuns nos anos 2000 que não me agradaram nem um pouco, mas retornaram à boa forma com seu álbum autointitulado em 2006. Atualmente, a banda está em turnê, e não lança um álbum de estúdio desde 2013. O último foi "Lightning Bolt", que alcançou o topo da parada norte-americana, provando a força da banda. Tocaram no Brasil no ano passado em estádios, incluindo um show no Maracanã. Sempre a certeza de um belo show com grande público!
R.E.M. - "New Adventures In Hi-Fi" - depois de um álbum de pegada bem rock, o R.E.M. resolveu mesclar o estilo deste álbum, seguindo por caminhos mais calmos, sem deixar totalmente de lado a pegada rock. Então, temos canções mais suaves como "New Test Leper", "E-Bow The Letter" e "Bittersweet Me" contrastando ao lado de belos rocks como "The Wake-Up Bomb", "Undertow" e "Departure". O disco chegou à segunda posição da parada norte-americana, e ganhou disco de platina - um milhão de cópias vendidas. Apesar deste bom resultado, acabou sendo um desapontamento para sua gravadora, que esperava mais (vale lembrar que os álbuns anteriores alcançaram marcas de quatro milhões de cópias nos EUA). Este foi o último álbum a contar com o baterista Bill Berry, que deixou a banda no ano seguinte, alegando cansaço da estrada e desejando uma vida mais tranquila, longe dos abusos da vida de rock star. Os três membros seguintes seguiram com a banda até 2011, quando resolveram encerrar as atividades do grupo. Uma pena, esta foi uma banda inovadora e de uma carreira recheada de belos álbuns e grandes canções. Celebremos a banda curtindo este legado!
Rush - "Test For Echo" - depois do fantástico trabalho no disco anterior, e de todo o sucesso, muita turnê, a banda voltou ao estúdio com o mesmo produtor (Peter Collins) e conseguiram bons resultados, se mantendo no Top 5 da parada norte-americana e a direção mais rock dos últimos trabalhos - a era orientada a teclados e sintetizadores tinha ficado definitivamente para trás. Este não é tão pesado quanto o anterior, trazendo alguns elementos de jazz e mais variação musical. Destaque para a abertura com a faixa-título, e as canções "Driven", "Half The World", "Virtuality" (mais pelo belo riff do que pela letra falando da Internet) e a linda balada "Resist". Na turnê que promoveu o álbum, o Rush dispensou bandas de abertura e partiu para o conceito "An Evening With Rush", onde a banda mergulhou fundo em sua história e presenteou seu público com shows de três horas, com intervalo no meio das apresentações (mais ou menos o formato que vimos nas duas turnês do Rush pelo Brasil). Após esta turnê, o baterista Neil Peart foi atingido por duas tragédias seguidas: a morte de sua filha e a morte de sua esposa, em um intervalo de menos de um ano. Depois de vagar com sua moto pelos EUA, ele acabou curando as cicatrizes e retornou à ativa em 2002, quando finalmente tivemos a oportunidade de ver o Rush em território brasileiro - confira o DVD "Rush In Rio" e veja a maravilha que foi!
Dio - "Angry Machines" - após o retorno à carreira solo, depois de mais uma tentativa frustrada de reunião com o Black Sabbath, em 1992, Ronnie James Dio remontou sua banda com o fiel escudeiro Vinny Appice, na bateria; Jeff Pilson, no baixo; e Tracy G. assumindo a guitarra. É uma das formações menos queridas pelos fãs do baixinho. Liricamente, os temas mágicos foram abandonados e houve mudança no direcionamento musical também, com canções mais pesadas, som mais moderno, abandonando o heavy metal clássico praticado nos primeiros álbuns. Se a fórmula ainda funcionou no álbum anterior, "Strange Highways", aqui mostrou desgaste e poucos resultados interessantes. Os poucos destaques ficam com "Black", "Hunter Of The Heart" e "Double Monday". Os maus resultados musicais se refletiram em baixas vendas e acabaram pressionando Dio a retornar para uma sonoridade mais próxima de seus primeiros discos. Foi o que ele fez, tendo que se livrar do guitarrista Tracy G. e trazendo de volta o guitarrista Craig Goldy. Craig é atualmente membro do Dio Disciples, uma banda tributo ao trabalho de Ronnie. Os membros da formação mais clássica da banda Dio, Jimmy Bain, Vivian Campbell e Vinny Appice, montaram uma banda juntos, chamada Last In Line, e chegaram a lançar um álbum de estúdio juntos - "Heavy Crown". Lamentavelmente, Jimmy Bain veio a falecer no começo deste ano. Celebremos o trabalho de Jimmy e Ronnie no Dio e no Rainbow, são clássicos que durarão para sempre!
Apocalyptica - "Plays Metallica By Four Cellos" - no mesmo ano em que o Metallica foi duramente criticado pela mudança de visual e pela sonoridade frouxa de "Load", surgiu este álbum totalmente diferente, com quatro violoncelistas da Finlândia coverizando grandes clássicos da banda. Estão incluídas as canções "Enter Sandman", "Master Of Puppets", "Creeping Death", "Sad But True" e outras, totalizando oito belas versões que instantaneamente caíram na graça de muitos fãs do Metallica, tornando a banda conhecida na cena heavy metal (a curiosidade de ver como os clássicos mais que conhecidos ficavam ao som de quatro violoncelos alimentou o começo da carreira da banda). A brincadeira deu certo, a banda fez uma carreira, adicionou um baterista em 2005 e um vocalista em 2014, e vem lançando álbuns regularmente - o último lançado foi "Shadowmaker", no ano passado (2015). As covers foram dando lugar a composições próprias e os álbuns passaram a conter apenas material composto pela própria banda, que tem participado de festivais de metal e tudo. Este foi o começo da carreira deles!
Korn - "Life Is Peachy" - lá em cima, quando falamos do álbum "Roots", do Sepultura, vimos que o vocalista Jonathan Davis fez participação especial. Deste encontro, ele trouxe parte da influência de onde este segundo álbum do Korn bebeu. A banda já tinha conseguido crescer com sua base de fãs, após muita turnê promovendo o primeiro disco, e agora era hora de gravar o substituto. Voltaram a se reunir com o produtor Ross Robinson (o mesmo do disco anterior e do disco do Sepultura), e rapidamente gravaram este álbum. Foi uma evolução que acabou sendo um marco do novo estilo nu metal que surgia. Sem muita promoção, o álbum chegou à terceira posição na parada norte-americana e conseguiu alcançar a marca de dois milhões de cópias vendidas nos EUA. Musicalmente mais diverso e com menos ligação com o heavy metal. Destaque para a abertura com o vocal louco de Davis na faixa "Twist", e os singles "No Place To Hide", "A.D.I.D.A.S." e "Good God". Os dois próximos álbuns da banda alcançariam o topo da parada e seriam o auge na carreira da banda. Depois, com a queda de popularidade do movimento nu metal, a banda perdeu um pouco de sua força. Não lançam um disco de estúdio desde 2013; o último foi o álbum "The Paradigm Shift". Este último álbum marcou a volta do guitarrista Brian "Head" Welch, que tinha saído da banda em 2005. Rumores indicam que a banda está compondo para um novo álbum de estúdio, mas nada oficial foi noticiado.
Downset - "Do We Speak A Dead Language?" - segundo álbum destes californianos com origens no hardcore, e com influência de hip hop, principalmente nos vocais. Se o primeiro álbum transbordava agressividade musical, este me parece um pouco mais bem produzido e polido, sem necessariamente perder o ataque. Logo na abertura, uma introdução incendiária abre espaço para a grande canção do disco, "Empower", o refrão berrado a plenos pulmões. Outros destaques são "Eyes Shut Tight", "Hurl A Stone", "Against The Spirits" e "Ashes In Hand". A banda ficou parada por um tempo, mas retornou às atividades e até já lançou um novo álbum de estúdio em 2014, chamado "One Blood". Quem sabe qualquer hora dessas algum produtor de shows lembre deles e os traga ao Brasil...
Angra - "Holy Land" - depois de estrear muito bem com o álbum "Angels Cry", e depois de muita turnê para promover o disco, o Angra partiu para um projeto mais audacioso: um álbum conceitual com temática girando em torno do descobrimento do Brasil. As gravações levaram muito tempo, oito meses, em parte por problemas nas cordas vocais de André Mattos. Alguns problemas de relacionamento começaram a surgir: inúmeros boatos apontam insatisfação da banda para com as mixagens, acusando o vocalista de privilegiar os teclados em detrimento das guitarras. Polêmicas à parte, temos um belo álbum, muito bem tocado e composto, com alguns clássicos da banda presentes: a abertura renascentista com "Crossing", uma bela introdução para "Nothing To Say"; a longa e progressiva "Carolina IV", com influências da música brasileira, assim como a faixa-título; e a balada "Make Believe", que teve vídeo clipe concorrendo na premiação da MTV brasileira. Mais um álbum de estúdio gravado, e André Mattos sairia da banda, formando o Shaman (e depois até retornou ao Viper). Edu Falaschi entrou, gravou diversos álbuns, e saiu também. Atualmente, os vocais estão a cargo de Fabio Lione (ex-Rhapsody Of Fire). Kiko Loureiro está de licença da banda, enquanto toca com o Megadeth. Nenhuma notícia sobre novo álbum de estúdio, entretanto. Vejamos como as coisas se encaminham - o Angra está em baixa de sucesso, precisa de algum fato novo para recuperar o prestígio desta época dourada!
Sempre trabalhosa, mas muito prazerosa, esta série de posts chega ao fim este ano, mas com certeza ano que vem voltaremos à carga com os discos de 20, 30, 40, 50 anos de idade. Recordar é viver e também sempre um prazer!
Um abraço rock and roll e até o próximo post!!
Um abraço rock and roll e até o próximo post!!