Quem é antigo escutando rock e é familiar com as origens do estilo, conhece o termo "Santíssima Trindade do Rock". Este termo se refere a três bandas que surgiram no final dos anos 60/começo dos anos 70, e tiveram um papel fundamental na música que seria feita dali pra frente. Praticamente toda a banda atual (banda decente, claro...) revela a influência de pelo menos uma destas bandas, isso quando não se declara influenciada pelas três. Estamos falando de Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. Não foram citadas aqui em ordem de grandeza, importância ou qualquer outro quesito. Apenas em ordem alfabética. Importante citar isto, pois os fãs mais xiitas destas bandas costumam defendê-las com unhas, dentes, facas, granadas e demais armas disponíveis. Eu me declaro fã incondicional das três bandas. Adoro muito as três, já tive preferências por uma (não declararei qual, claro...) e reconheço qualidades e defeitos nelas. Já falei (principalmente) das qualidades e dos defeitos do Black Sabbath há alguns posts atrás, agora chega a vez do Deep Purple.
Meus primeiros contatos com o Purple foram escutando os principais clássicos na saudosa Fluminense FM. Mas o que realmente me cativou e me fez adorar a banda foi ver o clipe de "Highway Star". Aquele clipe tosco e mal gravado guarda toda uma magia: Ritchie Blackmore usando chapéu de bruxo, John Lord balançando seu teclado pra lá e pra cá e Ian Gillan liberando toda a potência de sua garganta de ouro foram determinantes para me conquistar. Após estas palavras, deu pra perceber meus componentes preferidos, aqueles que definem o som da banda. Um som inconfundível, maravilhoso, que marcou minha juventude. Deu pra perceber também minha formação preferida da banda: a Mk2. Mk2? Que porra é essa? Simples, segunda formação da banda. A primeira, que lançou 3 discos no final dos anos 60, tinha outro baixista e outro vocalista. Viria a conhecer os discos desta formação posteriormente. Antes, conheci a Mk3, que me revelou mais dois grandes talentos: David Coverdale e Glenn Hughes - este último também um componente preferido por este escriba que tece estas toscas palavras.
Em termos de discos, o primeiro que ouvi foi o ao vivo "Nobody's Perfect", com os clássicos em belas versões, mas gravado já nos anos 80. Claro que adorei e, como bom curioso colecionador, parti para os discos clássicos da Mk2: "In Rock", meu preferido, um dos melhores discos de todos os tempos, aquele disco que marcou a vida de quase todo o roqueiro dos anos 70/80/90. "Machine Head" é outro disco maravilhoso, praticamente composto apenas de clássicos. "Fireball" é outro petardo sensacional e "Wo Do We Think We Are" fecha com composições inspiradas mas a banda já estava em tensão. Não nos lamentemos, pois veio a Mk3, que soltou dois discaços: "Burn" e "Stormbringer", adoro muito ambos. Mais tensão, veio a Mk4 e o "Come Taste The Band", um bom disco que acabou sendo marcado por ser o último antes de um hiato de oito anos.
Oito anos de Rainbow para Blackmore (alguns anos de Rainbow para Roger Glover também...), carreira solo para Ian Gillan, alguns anos de Whitesnake para Ian Paice e John Lord e eles se cansaram. Ou faltou dinheiro, tanto faz, eles voltam a gravar e excursionar juntos, gravando o bom disco "Perfect Strangers". A faixa-título é maravilhosa e vale excelentes momentos nos shows. Mais um disco mediano gravado ("The House Of Blue Light") e mais tensão (como eles gostam de brigar!!): sai Gillan, entra Joe Lynn Turner. Quem ?? Lógico, ex-vocalista do Rainbow justo na época em que Roger Glover esteve na banda. "Slaves And Masters" é um disco mediano que qualquer fã do Purple tem o direito de estranhar. Eu falei alguns parágrafos acima que Gillan, Blackmore e Lord definem o som da banda. Quando um sai, o bicho pega. Durante o Mk3, foi preciso dois vocalistas para cobrir o monstro Gillan. O Turner até que é bom vocalista, mas soou estranho no Purple. Não deu certo. Uma pena que foi esta a formação que veio pela primeira vez ao Brasil, em 1991. Acabei não indo (tava sem grana também, claro). Mais uma vez o Gillan voltou, soltaram mais um disco mediano ("The Battle Rages On") e dessa vez a briga é feia. Quem sai é o Blackmore. O que eu falei? Saiu um dos que definem o som da banda! Nunca é possível substituir o Blackmore a altura. Pra turnê, chamaram o Satriani. Chegaram a excursionar e tudo. Ah, mas o Satriani tinha compromisso com a gravadora. Que merda! Satriani é um de meus guitarristas preferidos e caía bem no Purple. Mas não pôde... Chamaram então o Steve Morse. E com esta formação, que deve ser considerada o quê? Mk6? Esta formação lançou um bom disco ("Purpendicular") e também veio ao Brasil e dessa vez tive o prazer de vê-los. Um show maravilhoso, cobrindo os clássicos e mostrando excelente performance dos músicos. Morse se provou um bom substituto e também fez uma ótima performance.
Depois de mais um disco de estúdio ("Abandon") e mais uma turnê no Brasil, disco com orquestra e mais turnê, saiu o John Lord. Epa !! Com esta saída, são dois dos que definem o som da banda fora. Fiquei descrente, deixei inclusive de ir a show deles que rolou. Acabei indo no show de 2008, gostei do show, o Don Airey, seu substituto, fez um bom trabalho (tem bom currículo - já passou por Rainbow, Ozzy e já gravou com Sabbath e Priest), mas ficou faltando a figura mística de John Lord.
O Deep Purple hoje em dia não tem mais importância, apenas excursionar e matar a saudade de nós, jovens velhinhos que os adoram. Mas o legado deixado por esta banda garante muitas horas de excelente música, nos deixou excelentes músicos e também muitas memórias. Viva o Purple !!