Já relembramos os lançamentos internacionais de cinquenta, quarenta e trinta anos atrás. Agora, é hora de voltamos nossas atenções para os grandes lançamentos de 30 anos atrás do rock nacional. Depois de muito sucesso, este ano de 1989 mostrou o rock decaindo e fazendo pouco sucesso - o sertanejo iria ganhar as paradas. Ainda assim, destacaremos alguns lançamentos importantes de grandes nomes e alguns novos nomes que estavam surgindo. Vamos lá!!
Trinta anos atrás, o Brasil sofria com a hiperinflação e realizava mais uma troca de moeda - surgia o cruzado novo, que substituiu o cruzado. Os problemas hiperinflacionários do Brasil ainda demorariam meia década para serem resolvidos - os econômicos persistem até os dias atuais. Essa problemática prejudicava a música, que apresentava vendas baixas e poucas oportunidades para as novas bandas de rock nacional. Três delas se destacaram e tentaram roubar o lugar dos medalhões: Nenhum de Nós, Inimigos do Rei e Uns e Outros. Nenhuma delas conseguiu um sucesso tão forte e duradouro no longo prazo. Quem mandava de verdade na música brasileira eram as duplas sertanejas, que começaram a roubar a atenção das gravadoras. Mas os medalhões ainda impressionavam, em especial a Legião Urbana, que lançou seu álbum de maior sucesso neste ano.
Chega de enrolação, vamos aos grandes lançamentos do rock nacional em 1989!!
Ultraje a Rigor - "Crescendo" - depois de dois álbuns de sucesso absoluto, e muita turnê promovendo-os, o Ultraje a Rigor se cansou um pouco da estrada, e esse álbum surgiu nesse contexto de saturação da marca e cansaço da banda. Não é um álbum ruim, traz grandes momentos, mas mostra certa irregularidade, atirando para vários alvos sem acertar em cheio em nenhum. Os grandes momentos ficam com o grande single do disco, "Filha da Puta"; algumas canções antigas compostas por Edgard Scandurra: "Ricota" e "Chiclete"; e de faixas cantadas pelo guitarrista Sérgio Serra: "Laços de Família" e "Querida Mamãe", ambas um pouco destoando do repertório tradicional do grupo. Era o começo de uma fase de sucesso em declínio e conflitos com a gravadora, que passou a dar pouco espaço e promoção para a banda - mais ou menos o que acabou acontecendo com diversas bandas do rock, exceção dos grandes medalhões. Ainda assim, um bom álbum desta que foi uma das grandes bandas do rock nacional!!
Kid Abelha - "Kid" - se o álbum anterior foi um atestado de sobrevivência, este foi um álbum de afirmação total para o Kid Abelha. Afirmação de que a banda estava tocando firme e forte com sua carreira; afirmação da maturidade da banda, em termos de composições; afirmação do sucesso, duradouro. A afirmação também resolveu mudar o nome da banda, removendo o sufixo Abóboras Selvagens. Uma das canções de maior destaque é a faixa de abertura, "De Quem É O Poder", com letra de Cazuza. Outros destaques ficam para as faixas "Dizer Não É Dizer Sim", "Agora Sei" e "Todo Meu Ouro". Os anos 90 trariam a banda alcançando ainda mais sucesso e se firmando como um dos grandes grupos de pop rock do Brasil!
Lobão - "Sob O Sol de Parador" - após a aposta no samba rock, no álbum anterior, aqui Lobão se mostra mais conservador e se mantém mais fiel ao rock, sem deixar de escapulir em pequenas aventuras aqui e ali dentro desse álbum. A gravação do álbum seria uma novela com grandes emoções: condenado à prisão em regime semiaberto, Lobão queria gravar o disco nos EUA, com Liminha, mas precisava pedir permissão para tal; não pediu, fugiu pela fronteira no sul, e acabou sendo preso novamente quando retornou ao Brasil. Logo na abertura, o rock toma conta com a faixa "Panamericana (Sob o Sol de Parador)", e segue firme e forte com a canção de protesto "Quem Quer Votar (O Sofisma)". O disco dá um respiro com a bela balada "Essa Noite Não (Marcha a Ré em Paquetá)" e segue com destaque para a faixa "Uma Dose A Mais" e a balada "Toda Nossa Vontade". Um belo álbum de Lobão que não ganhou muito destaque nem é muito lembrado em sua discografia. Vale a pena relembrar esse disco que completa 30 anos!!
Cazuza - "Burguesia" - após a consagração de público e crítica com o álbum de estúdio "Ideologia" e o ao vivo "O Tempo Não Para", Cazuza assumiu publicamente sua doença e mesmo continuando com seu tratamento, não parou de escrever letras que se transformariam em nada menos que 20 músicas de seu novo álbum de estúdio, o último de sua curta carreira. As parcerias são muitas e variadas: desde o parceiro de Barão Vermelho, Roberto Frejat, os amigos Lobão, Bebel Gilberto, George Israel e Arnaldo Brandão, até outras inusitadas como Rita Lee, incluindo também algumas versões para músicas de Caetano Veloso ("Esse Cara") e dos Paralamas do Sucesso ("Quase Um Segundo"). Uma declaração de sobrevivência, um protesto, o último feito pelo grande poeta do nosso tempo. Cazuza tentou tratamentos alternativos em São Paulo, voltou aos EUA para mais tratamentos tradicionais, e acabou retornando ao Rio de Janeiro, no ano seguinte (1990), para falecer no dia 07 de julho. Um grande artista a frente do seu tempo, que até hoje impressiona e influencia por todo o Brasil!!
Barão Vermelho - "Barão Ao Vivo" - o sucesso do álbum "Carnaval" ajudou o Barão Vermelho a recuperar parte de sua popularidade, e este álbum ao vivo consolidou essa recuperação, com versões alucinantes de seus maiores sucessos, mostrando um pouco de como as performances ao vivo do Barão eram incendiárias. Músicas como "Ponto Fraco", "Pense e Dance", "Por Que A Gente É Assim?" e os clássicos mais conhecidos "Bete Balanço" e "Pro Dia Nascer Feliz" agitam o ouvinte e o convidam a entrar na empolgação da banda. Até uma versão bem visceral de "Satisfaction", dos Rolling Stones, encaixa perfeitamente no repertório da banda. Este disco ficou marcado também como o último a contar com o baixista original da banda, Dé, que se desentendeu com Frejat e Guto Goffi. Sua saída abriu espaço para a entrada de Dadi e depois para a entrada de Rodrigo Santos, que ficou na banda até recentemente, quando resolveu sair do grupo para se dedicar a sua carreira solo. Um dos grandes álbuns ao vivo da história do rock brasileiro!!
Capital Inicial - "Todos Os Lados" - este quarto álbum de estúdio do Capital Inicial tenta recuperar um pouco a popularidade da banda, um pouco abalada com o irregular "Você Não Precisa Entender". Algumas músicas fazem sucesso na rádio, como a faixa-título, "Mickey Mouse Em Moscou" e "Belos e Malditos" (letra de Renato Russo), mas a crise econômica e a ascensão do sertanejo segura as vendas e não consegue aumentar a base de fãs da banda. Musicalmente, o disco traz um pouco mais de rock, com os teclados diminuindo um pouco a importância, mas sem largar mão completamente da veia pop. Outros destaques do álbum ficam com a canção "Olhos Abertos" (parceria com Humberto Gessinger) e "2001" (uma cover dos Mutantes). O Capital Inicial seria incluído nos principais festivais da época: Hollywood Rock, em 1990, e Rock In Rio, em 1991, antes de implodir em 1992, com a saída do tecladista Bozzo Barretti e pouco depois com a saída de Dinho Ouro Preto. Os membros restantes chegaram a lançar um álbum sem Dinho nos vocais, mas com péssimo desempenho comercial. Retornaram em 1998, estourando novamente com o álbum "Acústico MTV". A banda perdeu um pouco a relevância no cenário rock atual, com um som bem pasteurizado e letras sem muita força. Apesar disso, comercialmente a banda é talvez a mais bem sucedida atualmente de sua geração!
João Penca e Seus Miquinhos Amestrados - "Sucesso Inconsciente" - como em toda a carreira, este álbum do João Penca traz muito bom humor, sátira, fortes influências dos anos 50 e muita irreverência desse trio composto por Selvagem Big Abreu, Avellar Love e Bob Gallo. Aqui a banda já estava lançando por uma gravadora independente (Esfinge), já que as principais gravadoras só estavam mantendo os medalhões e bandas com pegada "séria". Apesar de independente, o álbum fez sucesso, principalmente com a música "S.O.S. Miquinhos (Merdley)", uma canção irreverente deliciosa que tocou muito nas rádios da época. Outros destaques ficam para as canções "Menino Justiceiro", "Matinê no Rian" (com participação de Paula Toller) e "Johnny Pirou" (versão do clássico "Johnny B. Goode", de Chuck Berry). Ainda lançaram mais um álbum de estúdio no ano seguinte, e encerraram atividades. Ensaiaram um retorno em 2007, com alguns shows no Rio de Janeiro e música em novela da Globo, gravaram uma apresentação no Circo Voador, mas tudo foi arquivado e a banda voltou à inatividade. Uma pena, a irreverência da banda faz muita falta nos dias atuais!!
Lulu Santos - "Popsambalanço e Outras Levadas" - depois de alcançar sucesso incrível e grandes vendagens com o álbum anterior ("Toda Forma de Amor", de 1988), Lulu Santos resolveu romper com o pop rock que vinha praticando e resolveu se aventurar por novas sonoridades e misturou bastante, trazendo elementos eletrônicos e brasilidades que acabaram não sendo bem recebidos pelo seu público. O disco vendeu bem menos que o anterior, inaugurando uma época de crise na carreira de Lulu, que só iria se recuperar em 1994, com o álbum "Assim Caminha a Humanidade". Os destaques do disco ficam para as faixas "Brumário", "Samba dos Animais" (composta por Jorge Mautner) e "Vicino". Lulu Santos continua firme e forte com sua carreira, e agora também ataca como "jurado" de programa de calouros. Com tanta bagagem, tem muito a ensinar para a nova geração de músicos!!
Uns e Outros - "Uns e Outros" - este foi o álbum que tornou a banda Uns e Outros conhecida nacionalmente, principalmente graças ao grande sucesso da canção "Carta Aos Missionários", que fez a banda estourar e até mesmo ser comparada à Legião Urbana (menos, por favor). Mas não foi o primeiro álbum da banda - este foi o segundo disco de estúdio do grupo. A pegada roqueira do grupo agradou a muitos fãs, mas estranhamente as demais músicas do disco lançadas nas rádios não empolgaram tanto quanto a canção carro-chefe, que abre o disco. Foi o caso de "Dias Vermelhos", "Máquina Mortífera" e "Lágrimas entre Máscaras". Talvez por esse motivo, a banda não conseguiu mais alcançar o mesmo sucesso com o lançamento seguinte, de 1990, e acabou se afastando do mainstream, lançando novamente um álbum de estúdio somente nos anos 2000. A verdade é que essa nova geração, composta por Uns e Outros, Nenhum de Nós e Inimigos do Rei (ver abaixo), não teve grande apoio das gravadoras, que já estavam com suas atenções voltadas para o sertanejo, e isso dificultou muito para essas bandas construírem uma carreira sólida. Ainda assim, conseguiram se destacar, como estamos vendo nesse post que comemora os 30 anos de lançamento desses marcos do rock nacional!!
Inimigos do Rei - "Inimigos do Rei" - esta foi uma banda que surgiu das entranhas de outro grupo, o Garganta Profunda, com a adição de alguns músicos que rapidamente lançaram este álbum de estreia que fez sucesso com músicas bem humoradas, irreverentes e alegres que agradaram o público carioca, principalmente. Os dois grandes sucessos do disco foram "Uma Barata Chamada Kafka" e "Adelaide" (esta uma versão de uma música do Run DMC), muito tocadas nas rádios pop/rock da época. Podemos destacar também as faixas "Jesse James" e "Mamãe Viajandona". Assim como aconteceu com o Uns e Outros, apesar do sucesso deste álbum, no próximo disco de estúdio ("Amantes da Rainha", de 1990) a banda não contou com muito apoio e não conseguiu vender muito. Pra piorar, a banda perdeu um de seus principais membros - Paulinho Moska. Conseguiram gravar apenas mais um álbum de estúdio, em 1998. Ainda estão na ativa, agora como um trio, tentando sobreviver na cena com shows relembrando os principais sucessos. Sempre bom relembrar um disco tão alegre como este!!
(estava tocando - após uma pneumonia de João Gordo e duas passagens pela UTI, a banda cancelou a turnê aguardando que a saúde de seu vocalista melhore)
Chegamos ao fim de mais um post sobre lançamentos passados. Espero que tenham curtido, deixem suas impressões, alguma ausência que vocês lembrem, os comentários estão aí pra isso. Um abraço rock and roll e até o próximo post!!