Ao contrário dos anos anteriores, neste ano só fui a um dia do festival Rock In Rio. Sim, o dia 23, dia em que uma das bandas mais importantes da história do rock tocou: o The Who finalmente veio para uma turnê no Brasil, incluindo um show como coheadliner deste dia, ao lado dos Guns N' Roses. Vamos lá para minhas impressões!
A novidade para este ano foi a mudança de localização do festival: ele foi realizado no Parque Olímpico, um espaço muito maior, o que permitiu à marca adicionar atrações não musicais, como o espaço dedicados a jogos eletrônicos (games é palavra em inglês, né...), que foi muito legal. Consegui jogar gratuitamente em máquinas de pinball e foi bem bacana. Os brinquedos também voltaram a estar presentes, com direito a montanha russa, roda gigante e megadrop. Legal, mas se você não chegasse muito cedo, não conseguiria agendar.
Essa é a nova proposta: tornar o festival um evento completo de entretenimento, com direito a música, jogos, diversão, e outros. Só que a música, que deveria ser o carro chefe, sofreu certo baque. Os Medina continuam adorando a repetição, então mais uma vez tivemos shows de Red Hot Chili Peppers, Bon Jovi, Capital Inicial, Jota Quest, Titãs, Guns N' Roses, bandas que já tocaram recentemente no Brasil e que estão sempre excursionando por aí. O chefão Roberto Medina já declarou em entrevista que queria o Metallica de novo (teria sido a quarta vez seguida!), que seu conceito é trazer um medalhão com força para encher um dia de festival e por isso aboliu a noite metal, pois os medalhões já estavam muito batidos ou não poderiam vir. Lamentável esse conceito primitivo, diversos festivais tem sido compostos com várias atrações de força que, no conjunto, acabam atraindo bastante público. Tomara que ele reveja esses conceitos; a edição passada compôs a noite com diversas atrações e teve boa receptividade.
Nesse baque musical, uma noite de atrações totalmente rock no Palco Mundo acabou tendo escalações completamente diferentes para o Palco Sunset. Tirando a viagem do Cidade Negra pelo repertório musical de Gilberto Gil, os outros shows foram bola fora e não receberam muita atenção, ficando claramente deslocados do perfil do público presente.
No Palco Mundo, os Titãs abriram os trabalhos com os grandes sucessos de sempre e a competência usual, mas eu senti a falta de Paulo Miklos. Ele sempre foi meu vocalista preferido na banda, tinha um diferencial e a banda vai ter que suar muito a camisa pra superar sua saída. Questionável também a opção deles de incluir três músicas inéditas em um show de festival e de tempo reduzido. No final das contas, o show foi bom mas com percalços. O final com "Vossa Excelência" e o público botando pra fora sua raiva para com a classe política valeu muito e compensou.
O Incubus entrou a seguir e não me agradou. O pouco que vi me mostrou uma banda com arranjos meio chatos, se esforçando muito pra ser melódica quando não devia nem precisava ser. Nessa hora lamentei o erro de escalar o excelente Alter Bridge, que abriu o show do The Who em São Paulo, para o dia anterior. Teria encaixado perfeitamente nesta noite. Talvez minha ansiedade em ver um dos pilares do rock já estivesse prejudicando meu senso de análise, mas perdoai-me, pois nós os fãs do The Who esperamos muito por este momento.
A dupla Roger Daltrey e Pete Townshend em ação no Rock In Rio. Foto: O Dia |
E ele chegou potente, magnífico e inspirado. Roger Daltrey e Pete Townshend provaram no palco porque ainda possuem grande relevância musical, e com uma grande banda os acompanhando, foi um desfile de clássicos do rock, um após o outro, que não deixou os fãs respirarem. O set list foi mais ou menos aquele que já mostramos em um post anterior, e comparando com o show de São Paulo, três canções ficaram de fora: "The Seeker" (curiosamente executada pelo Guns no seu bis...), "The Rock" e "Eminence Front". Nada que diminuísse a potência e a importância do show, que seguiu me encantando pela precisão, pela emoção de canções como "Behind Blue Eyes" e "Love Reign O'er Me", ou pela força de clássicos como "Baba O'Riley" e "Won't Get Fooled Again", as duas canções que encerraram este show magistral. Valeu a espera demais!!
Um rápido parênteses aqui: claro que esta versão da banda não está à altura do grande The Who dos anos 70, com sua formação original e cuspindo fogo com tudo. Nem teria como ser diferente: infelizmente, os grandes Keith Moon e John Entwistle já se foram. Mas devemos respeitar seus substitutos, em especial o excelente baterista Zak Starkey. O filho de Ringo desceu o braço como poucos e honrou muito bem a história de seu padrinho.
Axl e Slash voltando a tocar juntos no festival. Foto: O Dia |
Rapidamente, sem muita espera, o palco foi preparado para a atração final da noite. A última impressão dos Guns N' Roses no festival não foi muito boa: Axl atrasou demais e entrou quase duas horas depois em 2011. Entretanto, agora a história era outra: dois dos membros originais, Slash e Duffy, estavam de volta, e a banda vem excursionando com grandiosidade pelo mundo afora, e o próprio Brasil já tinha conferido essa turnê no final do ano passado. Era hora da banda limpar seu nome e fazer uma grande apresentação no festival, à altura dos dois grandes shows do segundo Rock In Rio, de 1991.
O começo do show foi matador: a dupla "It's So Easy" e "Mr. Brownstone" animaram bastante a plateia e mostraram a banda bem afiada e com grande ataque. O problema começou a acontecer quando as canções que exigiam os agudos de Axl chegavam. Foi o caso de "Welcome To The Jungle" e "Roquet Queen", por exemplo. Axl tem preferido um falsete nesses momentos, e eu realmente estranhei bastante. Em alguns momentos ficou meio constrangedor: a banda descendo a lenha com uma competência impressionante, e Axl com aquele falsete mega estranho. Fora isso, sua performance estava muito boa: ele corria de um canto ao outro do palco, falava amistosamente com o público, tocou piano antes e durante "November Rain" (executando aquele trecho maravilhoso de "Layla"), estava de bem com a vida. Mas a voz não ajudou e os falsetes... Falemos bem dos demais membros: a dupla de guitarristas estava entrosada e muito bem, Slash solou tudo que pode e foi um destaque. Duffy também tocou bem e cantou "Attittude", dos Misfits, com sua pegada punk. O baterista Frank Ferrer também mostrou competência, assim como o tecladista Dizzy Reed.
Quem acompanhou as notícias já sabia que o show duraria mais de três horas. Bastante cansativo para um festival, mas devemos dar o reconhecimento para a banda, que mandou ver seu repertório completo, sem concessões. E aí entra uma rápida crítica: já são muitas músicas a tocar, acho que a banda poderia simplificar um pouco na execução; eles dão uma boa enrolada pra introduzir algumas o que acaba tomando ainda mais tempo. E acho que tem cover demais incluído no set, acho que deveriam priorizar o repertório próprio.
No final, todo mundo esgotado e feliz, com dois shows grandiosos, que só terminaram depois de 4 horas da madrugada. Uma maratona roqueira pra compensar a falta de rock da semana passada. Mas pode ser melhor, né? Imagina se tivéssemos atrações roqueiras também no Palco Sunset? Vamos torcer que os Medina não esqueçam das boas atrações musicais para a próxima edição!
Alguns vídeos:
"Behind Blue Eyes", The Who:
"Knocking On Heaven's Door", Guns N' Roses:
Um abraço rock and roll e até o próximo show!!