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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

1968 - psicodelia e blues rock no topo

Ano novo, vida nova, post novo! Começamos 2018 já inaugurando os posts da série que mostra os grandes lançamentos acontecidos no passado. Voltamos meio século no tempo para conhecer os grandes discos do ano de 1968!!

O ano de 1968 foi um ano de endurecimento, de perda de liberdades políticas, de repressão, de morte. Logo no começo do ano, um forte terremoto matou 230 pessoas na Itália, na ilha da Sícilia. A Guerra do Vietnã endureceu, com muitas mortes dos dois lados, incluindo civis vietnamitas. Em abril, em Memphis, o líder e ativista negro Martin Luther King foi assassinado, por um segregacionista do sul dos EUA. Na Tchecoslováquia, Alexander Dubcek assume o poder e começa uma série de reformas que concederam maiores liberdades, direito à imprensa, um início de um processo de democratização. Esse processo foi violentamente interrompido pela União Soviética, que invadiu e ocupou o país, removendo todas as reformas. A Tchecoslováquia ficou invadida e ocupada até 1990. Em diversas cidades do mundo, muitos protestos e manifestações aconteciam, contra as guerras (em especial a Guerra do Vietnã), contra o racismo e a favor de mais direitos para as minorias, para as mulheres (o começo do movimento feminista). Greves aconteceram e foram violentamente repreendidas (como a que aconteceu na França, em maio). No nosso Brasil não foi diferente: após o golpe de 1964, muitos intelectuais pediram maior liberdade de expressão, liberdade para a imprensa e menos violência da polícia (não lembra um pouco o que está acontecendo nos dias de hoje?). Os protestos foram crescendo e acabaram encurralando o governo militar, que endureceu de vez a ditadura: lançaram o ato institucional de nº 5, o famigerado AI-5, que fechou o Congresso Nacional e eliminou de vez os direitos individuais dos brasileiros. Ficamos nessa situação constrangedora e terrível até o final dos anos 70, quando houve a anistia ampla, geral e irrestrita. No cinema, dois grandes filmes foram lançados: "2001: Uma Odisseia no Espaço" e "Planeta dos Macacos" (a versão original, com Charlton Heston no papel do astronauta que retorna ao planeta dominado pelos símios). Na música, a psicodelia ainda estava em alta, mas diversas bandas já flertavam com outros estilos e procuravam seguir outros caminhos. No nosso Brasil, apesar de toda a repressão, surgiu um dos melhores movimentos musicais - a Tropicália, que revelou Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e os Mutantes, dentre outros. O lançamento do disco "Tropicalia ou Panis Et Circencis" foi um marco do estilo.

Chega de enrolação, vamos falar dos grandes discos de 1968!!

Steppenwolf - "Steppenwolf" - o grande sucesso desta banda canadense pode ser diretamente associado à utilização de duas de suas canções na trilha sonora do filme "Easy Rider". Em especial, o clássico "Born To Be Wild" nos créditos de abertura do filme, com os dois atores principais (Peter Fonda e Dennis Hopper) viajando pelas estradas dos EUA, em suas motos. Musicalmente, a banda trazia uma mistura de psicodelia e hard rock que influenciaria muita gente no futuro. Além do destaque com o grande clássico "Born To Be Wild", temos também as boas canções "Sookie Sookie", "The Pusher" (também utilizada na trilha sonora de "Easy Rider") e "The Ostrich". Outro detalhe que pode ser mencionado é a menção ao termo "heavy metal" na letra do grande clássico. A voz marcante do vocalista John Kay seria marcante para toda uma geração. Ainda este ano, a banda já lançava seu segundo álbum, ver mais abaixo!

Fleetwood Mac - "Fleetwood Mac" - muitos chamam esta primeira formação da banda como a formação com Peter Green, o guitarrista da banda nesta primeira fase. Green já tinha em seu currículo uma participação na banda John Mayall & The Bluesbreakers, simplesmente substituindo Eric Clapton. Ele se juntou ao baixista da mesma banda, John McVie, ao baterista Mick Fleetwood, e ao guitarrista Jeremy Spencer e formou sua nova banda, nomeando-a com os sobrenomes do baterista e do baixista. E porque insistem tanto em diferenciar esta primeira fase do Fleetwood Mac? Porque ela é totalmente diferente da fase comercial da banda, na segunda metade dos anos 70, quando estouraram com diversos discos de muito sucesso, com o auge sendo o álbum "Rumours". Aqui, a banda era blues até a raiz, sem nenhum traço comercial. Apesar dessa característica, o grupo conseguiu alcançar a quarta posição na parada britânica. Destaque para as faixas "Hellhound On My Trail" (uma cover de Robert Johnson), "Shake Your Moneymaker" (outra cover, desta vez de Elmore James) e "I Loved Another Woman". Ainda este ano, o Fleetwood Mac lançaria seu segundo álbum, chamado "Mr. Wonderful", e alcançaria a décima posição na mesma parada. Durante esta mesma época, a banda lançou alguns singles também, sendo o mais famoso deles "Black Magic Woman", a canção que ganharia fama mais tarde com Carlos Santana e sua banda, no álbum "Abraxas". Apesar do pouco sucesso, esta primeira fase do Fleetwood Mac merece muito respeito e atenção. Peter Green ficaria na banda até 1970, quando começou a apresentar problemas de saúde e acabou saindo da banda. Ele foi diagnosticado com esquizofrenia mais tarde. Aos poucos, a banda foi mudando seu estilo até chegar a um pop rock de sucesso extremo com os álbuns "Fleetwood Mac", "Rumours" e "Tusk" - três álbuns que alcançaram o topo da parada norte-americana. O melhor a fazer é conferir as duas fases da banda!

Iron Butterfly - "In-A-Gadda-Da-Vida" - esta foi uma banda norte-americana que lançou seu álbum de estreia neste mesmo ano, bem no comecinho, e seis meses depois já lançava este segundo disco, quando conseguiram grande sucesso alcançando a quarta posição na parada norte-americana. Tratava-se de mais uma banda surfando na onda da psicodelia, e que iria influenciar o hard rock e o heavy metal que seriam feitos mais à frente (confira a cover para a faixa-título, feita pelo Slayer). Os vocais e o órgão de Doug Ingle eram marcas inconfundíveis na banda. O grande sucesso deste disco é a faixa-título, uma loucura psicodélica de dezessete minutos! A faixa ocupava todo o Lado B, e para comercializá-la, foi lançada uma versão single, de pouco mais de três minutos. Outros destaques ficam para "Most Anything You Want" e "Flowers And Beads". Apesar de não ter alcançado o topo da parada, foi um dos álbuns mais vendidos neste período, alcançando rapidamente a marca de três milhões de cópias. Estima-se que o álbum já tenha vendido 30 milhões de cópias no mundo todo (fonte: Wikipedia). A banda ainda manteve-se com sucesso nos próximos anos, mas acabou se desfazendo em 1971. Retornou em 1974, com muitas mudanças de formação e sem lançar nenhum disco depois de 1975. Este álbum foi sua obra prima!

Pink Floyd - "A Saucerful Of Secrets" - este segundo álbum do Pink Floyd é especial por ser o único disco da banda a contar com a participação de todos os cinco membros da banda: ainda conteve pequenas participações de Syd Barrett, e já contava com a participação do novo membro, David Gilmour, chamado exatamente para cobrir as ausências cada vez mais constantes de Barrett. Musicalmente, ele segue mais ou menos a psicodelia do primeiro álbum, só que alcançando menos sucesso (o álbum nem entrou na parada norte-americana na época em que foi lançado). Com o afastamento de Barrett, o baixista Roger Waters começou a assumir o papel de protagonista e de principal compositor da banda. Destaque para as canções "Let There Be More Light", "Set The Controls For The Heart Of The Sun" e a faixa-título, uma canção instrumental de 12 minutos de duração. Os próximos álbuns da banda iriam amadurecer o grupo em termos de composição, até que o sucesso chegaria definitivamente com o lançamento do clássico "Dark Side Of The Moon", em 1973 - confira o post!

The Band - "Music From Big Pink" - esta banda foi se formando como grupo de apoio de um artista canadense (Ronnie Hawkins) de sucesso local. Cresceram musicalmente, formaram uma unidade e acabaram contratados por ninguém menos que Bob Dylan, em 1965. Tocaram com ele até 1967, mas como Dylan sofreu um acidente eles foram obrigados a dar um tempo das turnês. A banda de apoio passou então a ensaiar e compor juntos com Dylan (em uma casa rosa apelidada "Big Pink" - daí o nome do álbum) e eventualmente chegaram a todo o disco composto e pronto para ser apresentado ao mundo (com três canções compostas em parceria com Dylan). O próprio empresário de Bob Dylan tratou de arranjar um contrato para a The Band e assim começou a carreira fonográfica deles. Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson, Richard Manuel e Robbie Robertson talvez não tivessem ideia mas teriam uma carreira de sucesso (maior de crítica que de público) e influenciariam muita gente. Destaque para as faixas "Tears Of Rage", "The Weight", "Chester Fever" e "I Shall Be Released". A The Band teve uma carreira não tão longa, se encerrando em 1978, com show grandioso gravado por ninguém menos que Martin Scorsese. Quando chegar o post de 1978 a gente fala mais sobre esse grande álbum!!

The Doors - "Waiting For The Sun" - este foi o único álbum da banda a alcançar o topo da parada norte-americana, e também foi o primeiro a não contar com uma longa canção fechando o disco ("The End" e "When The Music's Over" fecharam os dois discos anteriores). O produtor Paul Rothchild não se interessou pela suíte "Celebration Of The Lizard", composta por Jim Morrison, e acabou aproveitando apenas um trecho desta longa composição no álbum - seria a faixa "Not To Touch The Earth", altamente psicodélica. Outros destaques do álbum ficam para as duas primeiras canções: "Hello, I Love You" e "Love Street". Era o começo dos abusos com o álcool e drogas do vocalista Jim Morrison, e também das confusões com a polícia nos shows da banda. Toda a confusão e os abusos iriam levar ao fim da banda e à morte do vocalista, em 1971. Antes disso, diversos álbuns ainda seriam gravados - papo para os posts dos próximos anos!

Creedence Clearwater Revival - "Creedence Clearwater Revival" - apesar de somente lançar o primeiro álbum neste ano de 1968, a banda estava na ativa desde 1964, com diferentes nomes: The Blue Velvets e The Golliwogs. Chegaram a lançar diversos singles com este último nome, sem conseguir grande sucesso. Uma oportunidade dada pelo primeiro produtor da banda, Saul Zaentz, de poder gravar um álbum inteiro, teve a condição da banda mudar de nome. Acabaram criando o nome que ficou famoso. Este primeiro álbum traz fortes influências das raízes musicais norte-americanas, como country e blues, e já demonstra todo o talento de John Fogerty, que a esta altura já era o principal compositor da banda, seu cantor e seu guitarrista (seu irmão mais velho, Tom Fogerty, era o outro guitarrista, com Stu Cook e Doug Clifford completando a clássica formação). Apesar das composições próprias, os destaques ficam para duas covers: "I Put A Spell On You", de Screamin' Jay Hawkins, e "Susie Q", de Dale Hawkins. O álbum em si não estourou em vendas (chegou apenas à 52ª posição), mas o single "Susie Q" conseguiu chegar à 11ª posição e foi o primeiro grande sucesso da banda. Curiosamente, um dos poucos não compostos por John Fogerty. A banda ainda faria muito sucesso nos anos seguintes, chegando ao topo da parada por duas vezes. Papo para os posts dos próximos anos!

Deep Purple - "Shades Of Deep Purple" - este foi o álbum de estreia do Deep Purple, em sua primeira formação (conhecida como Mk.I), com Ritchie Blackmore, Ian Paice, Jon Lord, Nick Simper e Rod Evans. Nesse começo de carreira, a banda ainda não tinha todo o seu poder de composição e a força que alcançariam anos depois, mas já apresentava muita qualidade com algumas poucas composições próprias e versões arrebatadoras de alguns sucessos da época. Neste disco, temos "One More Rainy Day" e "Mandrake Root" como destaque das composições da banda, e grandes versões para "Hush", "Help!" (dos Beatles) e "Hey Joe". Os vocais de Rod Evans não tinham a potência e o alcance de seu futuro substituto, Ian Gillan, mas fizeram um grande trabalho nos três álbuns que ele gravou com a banda. Sem perder muito tempo, ainda este ano a banda lançaria seu segundo álbum de estúdio - ver mais abaixo!

 
Cream - "Wheels Of Fire" - terceiro disco deste grande power trio que já fazia bastante sucesso e já tinha alcançado o estrelato. A banda aproveitou sua fama e tomou a liberdade de tentar um projeto mais ambicioso, um álbum duplo, com gravações em estúdio e performances ao vivo. Entre as faixas de estúdio, alguns clássicos do grupo, como "White Room", "Politician" e "Those Were The Days". As performances ao vivo foram gravadas no Fillmore e no Winterland Ballroom, em São Francisco, e incluem versões estendidas cheias de improviso de "Crossroads", "Spoonful" e "Toad". O álbum foi um sucesso e levou o Cream ao topo da parada norte-americana. Entretanto, as tensões entre o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker chegaram ao limite, e Eric Clapton já estava com o desejo de procurar novos caminhos musicais. A banda prometeu uma turnê de despedida, e ainda gravou um último álbum de despedida (lançado no ano seguinte, após o fim do grupo). Foi o fim de uma das bandas mais importantes e mais influentes do rock. O virtuosismo e o tremendo nível de suas composições elevariam o padrão de qualidade dos músicos e dos discos dali em diante. Podemos até dizer que a banda foi uma das primeiras a flertar com o rock progressivo, que começaria no ano seguinte. A banda chegou a se reunir em 2005 e tocou alguns shows na Inglaterra (no Royal Albert Hall) e nos EUA (no Madison Square Garden, em Nova Iorque). Eles foram gravados e lançados em DVD. Em 2014, Jack Bruce faleceu em consequência de complicações de problemas em seu fígado. Longa vida aos dois membros ainda vivos, Ginger Baker e Eric Clapton!!

Big Brother And The Holding Company - "Cheap Thrills" - segundo álbum desta ótima banda, que tinha como vocalista a grande Janis Joplin. Este foi o álbum que levou eles ao estrelato, chegando ao topo da parada norte-americana e ficando lá por algumas semanas. Foi o álbum de maior sucesso neste ano de 1968. Se você escuta o álbum pela primeira vez pode se enganar e achar que se trata de um disco ao vivo, mas o barulho de plateia aplaudindo foi adicionado; as faixas foram gravadas em estúdio. E muito bem gravadas, temos alguns clássicos do rock aqui: "Combination Of Two", "Summertime", "Piece Of My Heart", "Ball And Chain". A sonoridade crua conseguiu capturar a potência que a banda tinha ao vivo. E a voz inconfundível de Janis aumentou ainda mais o impacto do álbum. Apesar do sucesso estrondoso, a banda sofreria uma baixa irreparável no final deste ano: Janis Joplin saiu do grupo e partiu para uma brilhante porém extremamente curta carreira solo. Apenas dois discos de estúdio, sendo um deles póstumo, lançado após sua morte, em 1970. Nos próximos posts vamos explorar esses álbuns!

The Jeff Beck Group - "Truth" - Jeff Beck era um dos guitarristas dos Yardbirds (Eric Clapton tinha sido, e Jimmy Page também foi) e acabou saindo da banda. Ele então resolveu montar um grupo que levasse seu nome, e recrutou o vocalista Rod Stewart, o guitarrista Ron Wood (ele mesmo, que depois formou o The Faces e entrou nos Rolling Stones) e testou diversos bateristas até acertar com Mick Waller. Com uma formação tão possante, Jeff gravou alguns singles no ano anterior (1967) até que partiu para a gravação deste seu primeiro disco, um álbum seminal e altamente influente no hard rock e heavy metal feitos nos anos que seguiriam. Clássicos como "Shapes Of Things", "Greensleeves", "Beck's Bolero", "I Ain't Superstitious" provam a importância deste grande álbum na história do rock. Além da banda citada, temos algumas participações mais que especiais: Keith Moon, do The Who, e Jimmy Page e John Paul Jones, que formariam o Led Zeppelin alguns meses depois. Eles tocam no clássico "Beck's Bolero". E outra coincidência entre este álbum e o futuro disco de estreia do Led Zeppelin é a presença de "You Shook Me", cover de Willie Dixon. As más línguas diriam que Page bebeu nesta fonte para seu primeiro trabalho com a nova banda, mas não podemos esquecer que Page ajudou Beck a compor um de seus clássicos ("Beck's Bolero"). Minha opinião: ambos os álbuns são fundamentais e devem ser degustados com prazer e deleite!!

The Jimi Hendrix Experience - "Electric Ladyland" - este foi o álbum mais audacioso de Jimi Hendrix. Um álbum duplo, que ainda passeava na psicodelia, mas já se expandia para muito mais, incluindo um grande número de convidados participando: Brian Jones, dos Rolling Stones; Steve Winwood, do Traffic; Jack Casady, do Jefferson Airplane; e Buddy Miles, que iria tocar com Hendrix em seu próximo projeto, a Band Of Gypsys. Neste álbum temos diversos clássicos, canções muito conhecidas da carreira de Hendrix, como "Crosstown Traffic", "Burning Of The Midnight Lamp" e "Voodoo Child (Slight Return)". Temos também longos improvisos deliciosos, como "Voodoo Chile" e "1983... (A Merman I Should Turn To Be)", canções longas, de mais de dez minutos de duração. E temos a grande cover de Bob Dylan, "All Along The Watchtower", em uma versão definitivamente melhor que a original. O sucesso foi imediato, topo da parada norte-americana, e a importância e a influência deste álbum ao longo do tempo seria enorme, gigantesca. Foi o último álbum do Jimi Hendrix Experience: Noel Redding, o baixista, já estava com um relacionamento deteriorado com Hendrix e acabou saindo. Jimi continuaria tocando com o baterista Mitch Mitchell até o festival de Woodstock, no ano seguinte, e montaria o projeto Band Of Gypsys, com Billy Cox e Buddy Miles. Papo para os próximos posts, anos de 1969 e 1970!!

Jethro Tull - "This Was" - mais uma banda clássica lançando seu álbum de estreia. No caso do Jethro Tull, esta estreia não seguia o rock progressivo que a banda praticaria nos anos seguintes e ficaria famosa. Aqui, a banda trouxe mais influências blues e jazz, sem esquecer do folk e da inconfundível flauta do vocalista Ian Anderson. Ele dividiu a composição do álbum com o guitarrista Mick Abrahams, que acabou apenas gravando este álbum do Jethro Tull - a banda testou diversos guitarristas para substitui-lo, incluindo Tony Iommi, que participou da gravação do especial dos Rolling Stones, "Rock And Roll Circus" (gravado neste ano de 1968 mas lançado somente no meio dos anos 90), e acabou optando por Martin Barre, que ficou na banda pra valer (até 2012 ele foi guitarrista do grupo - só não participou dos shows mais recentes do grupo). Destaque para as canções "My Sunday Feeling", "Dharma For One" e "A Song For Jeffrey". A banda só faria crescer nos próximos anos, lançando diversos álbuns de sucesso de público e de crítica, clássicos do rock que o blog sempre procura relembrar nos posts. Longa vida ao Jethro Tull!!

Deep Purple - "The Book of Taliesyn" - lançar dois álbuns de estúdio no mesmo ano não é fácil, ainda mais com apenas três meses de intervalo! Apesar do pouquíssimo tempo para compor, a banda conseguiu entregar o melhor álbum desta primeira formação, com destaque para a abertura com "Listen, Learn, Read On", a excelente instrumental "Wring That Neck" e a versão estonteante para "River Deep, Mountain High", que já era um clássico na voz de Tina Turner e se transformou totalmente nas mãos do Deep Purple. Se no primeiro álbum, Jon Lord se destacava, aqui era Ritchie Blackmore que brilhava mais intensamente, já dando sinais do grandioso guitarrista que viria a ser. Vale citar a forma que o Deep Purple escolhia para coverizar essas conhecidas músicas: sempre com uma longa introdução instrumental, toda trabalhada e composta pela banda, também dando dicas do futuro brilhante dos músicos. Esta formação ainda gravaria mais um álbum antes de ser alterada para uma completa reformulação sonora da banda, uma guinada rumo ao hard rock/heavy metal que tornou o Deep Purple altamente conhecido -  o auge com a formação Mk.2. Antes, eles cresceram com estes álbuns!

Steppenwolf - "The Second" - apesar do primeiro álbum conter o grande clássico da banda, "Born To Be Wild", este segundo disco chegou mais alto na parada norte-americana, terceiro lugar, e também apresenta melhor produção e canções melhor trabalhadas, com mais influência do blues, consolidando a banda na cena musical. Os destaques ficam por conta da bela faixa de abertura, "Faster Than The Speed Of Life" (cantada pelo baterista Jerry Edmonton), "Don't Step On The Grass, Sam", "Magic Carpet Ride" (o grande sucesso deste álbum) e "Lost And Found By Trial And Error". A carreira do Steppenwolf duraria até 1976, quando a banda se separou pra valer. Desde então, algumas reuniões e novas formações foram vistas, mas o vocalista John Kay é quem costuma tocar o repertório da banda em seus shows pelo mundo afora. Ele teve uma carreira solo, lançou diversos discos e costuma se apresentar com o nome John Kay & Steppenwolf.

Traffic - "Traffic" - o Traffic era a banda de Steve Winwood (citado acima no disco do Jimi Hendrix Experience), e ainda contava com Dave Mason, Jim Capaldi e Chris Wood. Winwood e Mason dividiam os vocais, além de tocarem diversos outros instrumentos, assim como os demais integrantes. O álbum de estreia da banda foi lançado no ano anterior (1967, "Mr. Fantasy", sucesso moderado no Reino Unido) e Dave Mason chegou a sair da banda por um curto período, mas retornou para gravar este disco - ele sairia da banda novamente logo após o lançamento. Muitos podem não conhecer tanto este álbum, mas trata-se de um grande clássico do rock, com canções fundamentais e altamente influentes: "You Can All Join In", "Pearly Queen", "Feelin' Alright" (regravada por Joe Cocker, que conseguiu muito sucesso com sua versão), todo o álbum alcança muita qualidade e merece ser reverenciado pela sua excelência. A banda gravou mais um álbum e se separou por um tempo. Steve Winwood aproveitou e montou um supergrupo ao lado de Eric Clapton e Ginger Baker, em 1969 - o Blind Faith. O grupo não durou muito e o Traffic voltou às atividades e ficou na ativa até 1974, quando se separaram novamente. Retornaram para uma reunião em 1994. Da formação que gravou este álbum, apenas Dave Mason e Steve Winwood ainda estão vivos. Longa vida para eles!!

The Beatles - "The Beatles" - depois da consagração no ano anterior, com o aclamado álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", a banda sofreu um revés com o filme "Magical Mystery Tour", que recebeu muitas críticas. A morte precoce do empresário da banda, Brian Epstein, abalou o grupo, e eles buscaram refúgio junto ao guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Passaram três meses com ele, e conseguiram a paz e tranquilidade para compor muitas canções. Com tantas canções de qualidade, ficou óbvio que precisariam lançar um álbum duplo, e foi o que fizeram. Entretanto, as sessões de gravação mostraram sinais de fissura no relacionamento entre eles, com discussões mais ásperas entre os membros sobre decisões artísticas. As más línguas também atribuem os atritos à presença da nova parceira de John Lennon, Yoko Ono (quebrando uma regra que eles mesmo criaram de não deixar esposas e namoradas participarem de sessões de gravação). Mesmo com os problemas, alcançaram mais uma vez a perfeição, com um álbum grandioso que impressiona pelo nível de qualidade ao longo de 30 músicas! Muitos destaques aqui: "Back In The USSR", "While My Guitar Gently Weeps" (uma composição de George Harrison, com participação especial de Eric Clapton), "Hapiness Is A Warm Gun", "Blackbird", "Yer Blues", "Helter Skelter", e muitas outras. Com a banda atravessando o auge de sua popularidade, alcançaram facilmente o topo das paradas britânica e norte-americana, para um álbum que já conseguiu vender até os dias de hoje quase dez milhões de cópias! O ponto negativo sem dúvida é o início dos conflitos entre os membros: Ringo Starr chegou a sair da banda no meio das gravações, retornando logo a seguir. Era o começo de um período nebuloso para os Beatles, que eventualmente levou ao fim do grupo, no começo de 1970. Antes disso, ainda tiveram tempo e talento para lançar outros dois grandes álbuns de estúdio, que serão devidamente lembrados nos próximos posts!!

The Rolling Stones - "Beggars Banquet" - depois de uma aventura não tão bem sucedida pela psicodelia (o álbum "Their Satanic Majesties Request"), claramente fora das raízes da banda, os Rolling Stones resolveram voltar a fazer o bom e velho blues rock onde sempre foram muito bons e se sentiam confortáveis. E o resultado foi muito bom, o começo de uma sequência fantástica de álbuns de estúdio que a banda lançaria, começando neste ano de 1968 e indo até o final dos anos 70. O ponto negativo do álbum é a participação errática de Brian Jones, profundamente envolvido com drogas, e que deu seu adeus neste disco. Brian sairia da banda e acabaria falecendo em um acidente bem estranho pouco tempo depois (em julho de 1969). O álbum conta com grandes clássicos tais quais "Sympathy For The Devil" e "Street Fighting Man" (esta com letra falando sobre os protestos ocorridos neste ano de 1968), explora as influências blues em faixas como  "No Expectations", "Parachute Woman" e "Stray Cat Bues", e até as influências country em faixas como "Dear Doctor" e "Factoy Girl" (esta última uma de minhas favoritas). Após a saída de Brian Jones, a banda rapidamente encontrou seu substituto: Mick Taylor, que daria novo gás aos Stones e preencheria o espaço que Keith Richards sozinho não conseguia preencher. Essa nova fase da banda duraria até o ano de 1974, quando Taylor, de forma um tanto quanto inexplicada, sairia do grupo. Foram muitos álbuns de estúdio de qualidade até lá!!

Os Mutantes - "Os Mutantes" - pra fechar o post, falemos deste importante lançamento, uma das primeiras bandas de rock do Brasil, e talvez a mais importante de todas, temos os Mutantes em sua estreia. A banda já tinha gravado com Gilberto Gil e participado de um festival de música popular com ele no ano anterior, 1967. O trio também gravou o famoso disco da Tropicália neste mesmo ano, ao lado de nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Tom Zé. Neste disco de estreia, a banda flerta fortemente com o rock psicodélico que estava sendo praticado pelas bandas britânicas e norte-americanas, adicionando influências brasileiras nas canções. É o caso de "A Minha Menina", adicionando influência de samba; "Adeus Maria Fulô", adicionando influência de baião; "Bat Macumba" e as influências das religiões afro-brasileiras; e muito mais. Todo esse caldeirão de influências torna este álbum um dos melhores lançamentos do rock brasileiro de todos os tempos - talvez sendo superado apenas por outros álbuns dos próprios Mutantes. A carreira da banda estava só começando, eles alcançariam muito sucesso com essa formação clássica - Rita Lee e os irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Baptista. Esta formação duraria até 1972, quando Rita seria expulsa da banda. Acompanhe os próximos posts para mais sobre a incrível discografia dos Mutantes!

Caros amigos, estes foram os lançamentos escolhidos para ilustrar este grande ano de 1968. Deixe suas impressões nos comentários, dizendo se sentiu falta de algum álbum! Um abraço rock and roll e até o próximo post com o ano de 1978!