Páginas

sábado, 18 de novembro de 2017

Obrigado, Malcolm Young!!

Obrigado, Malcolm Young, por todos os anos dedicados ao rock e ao AC/DC, esse monstro musical que sempre me trouxe tantas alegrias. Muita gente sempre prestou mais atenção às loucuras do seu irmão, vestido de colegial, se despindo na frente do público e tantas outras estrepolias. Ou às performances insinuantes de Bon Scott, o grande vocalista que a banda perdeu tragicamente. Até mesmo prestavam mais atenção no grande Brian Johnson, o substituto que cativou a todos com seu jeito único de cantar.

Você, Malcolm, ali no fundo do palco, nem queria aparecer tanto, mas fazia sua guitarra base de forma perfeita e harmoniosa, cantava os backing vocals muito bem e era uma peça fundamental na banda. Mais importante de tudo: você era o grande parceiro de seus irmãos, seja eles produzindo os álbuns da banda ou compondo os grandes clássicos ao lado de Angus. Nestes termos, podemos considerar a dupla Malcolm/Angus Young como uma das maiores criadoras de riffs do rock, rivalizando com os gigantes Tony Iommi e Jimmy Page.

Imagine um mundo sem clássicos como "Whole Lotta Rosie", "Highway To Hell", "Back In Black", "Jailbreak", "For Those About To Rock (We Salute You)". Seria muito entediante. O AC/DC era simples, direto, empolgante. Quando te pedirem sugestão de músicas para dançar, recomende AC/DC sem pestanejar. Não tem como escutar esses clássicos e ficar parado. Veja os últimos shows da banda na Argentina, eternizados no "Live At River Plate", e comprove. Eu, pelo menos, não consigo ficar parado.

Malcolm e sua banda me trouxeram muitos momentos marcantes, me ajudaram a ser a pessoa que sou hoje, me acompanharam por toda a minha vida. Toda vez que ia em uma loja de discos e voltava com uma preciosidade de sua discografia, era alegria certa por muito tempo, descobrindo aquelas músicas maravilhosas pela primeira vez. Momento difícil na vida? Taca um "Back In Black" ou um "Highway To Hell" na vitrola que a empolgação era imediata, surgia uma motivação lá do fundo pra levantar e continuar firme e forte.

Foram apenas cinco apresentações do AC/DC no Brasil. Duas no primeiro Rock In Rio, eu era moleque, apenas 14 anos e não consegui ir. Quando enfim voltaram, em outubro de 1996, já era totalmente louco pela banda, e a falta de grana pra viajar pra São Paulo me cortou o coração. Já tinha perdido as esperanças de vê-los ao vivo quando, em 2009, anunciaram único show, novamente em São Paulo. Eu tinha a grana pra comprar o ingresso e ir pra Sampa, mas será que eu conseguiria? A concorrência foi altíssima. Quando deu meia noite e começaram as vendas, fiquei tentando comprar pela Internet e nada. Acordei cedo, continuei tentando e nada. Minha querida esposa, altamente inspirada, me deu a ideia: "Vai na Saraiva que lá vende". Trabalhando no Centro do RJ, parti imediatamente pro Shopping Rio Sul, corri direto pra livraria Saraiva. Chegando lá, tinha umas cinco pessoas na fila. Começou a vender ali havia pouco tempo. Em mais alguns minutos, chegou a minha vez e eu consegui comprar meu ingresso.
 
Meu ingresso, devidamente guardado e digitalizado
 Enfim, tinha chegado a minha oportunidade de ver o AC/DC em ação. 27 de novembro de 2009. Um dia que não sai da minha cabeça. A ansiedade me acompanhou até a hora do show. Que baita show. Desde aquele vídeo introdutório, o trem invadindo o palco, "Rock 'N' Roll Train" no talo, um clássico após o outro, banda super afiada. E você, Malcolm, estava lá, como sempre discreto perto da bateria, no fundo, mantendo o ritmo frenético dessas maravilhosas canções que você compôs, sem errar. Hoje, após todas as revelações, sabemos que você já sofria de demência nessa turnê e se esforçou tanto para tocar perfeitamente. Teu esforço valeu muito a pena, para cada fã que compareceu a um dos shows daquela turnê. Marcou pra valer.
 
Para mim, em especial, foi o melhor show que já vi na vida. E eu já vi muita gente tocar ao vivo. Os grandes todos. A empolgação do público, cantando e pulando a cada música, foi insuperável, uma energia incrível. O show me marcou muito, e eu lembro de muitos detalhes, mesmo oito anos depois. Lembro da chuva que caiu na entrada; lembro do temporal armando já com o estádio do Morumbi bem cheio, as trovoadas rolando, e o público, inspiradíssimo, puxando o coro e cantando "Thunder!", do clássico "Thunderstruck". Lembro do começo do show, a empolgação incrível com o trem invadindo o palco e a banda começando com tudo. Lembro de olhar para a arquibancada em algum momento e ver um mar de chifrinhos vermelhos brilhando no escuro, um efeito lindo de se ver. Lembro de Angus surgindo de baixo do palco e sendo erguido no meio de seu solo, lembro dos clássicos sendo tocados, "Shot Down In Flames", "Back In Black", tantos outros. Lembro do final do show, os canhões estourando e todo mundo extasiado. Lembro da saída do estádio, o olhar de completa satisfação no rosto de cada um que estava ao meu lado, caminhando. Doces lembranças que me acompanharão para sempre.
 
Tudo isso não teria sido possível sem você, Malcolm Mitchell Young. Muitíssimo obrigado por todos esses momentos e lembranças que ajudaram a moldar o caráter e a personalidade de tantos roqueiros ao redor do mundo. Teu nome está cravado na história como um dos grandes do rock!!