Este post vai falar sobre a edição de 1993 do festival Hollywood Rock, que completou vinte anos em janeiro. Um festival que teve muito destaque pela vinda das bandas grunge no auge de seu sucesso, incluindo o Nirvana, Alice In Chains e L7. O festival também trouxe pela primeira vez ao Brasil o Red Hot Chili Peppers.
Lá se vão vinte anos de um festival bem bacana na época. O ano anterior foi o ano da explosão de sucesso do grunge (confira este post sobre o ano de 1992), e quando chegou a época de anunciar as bandas para o festival, claro que muita gente queria ver esses grupos. Foram espertos, conseguiram pegar duas bandas muito fortes da época - Nirvana e Alice In Chains. Trouxeram também o L7, que na época estava com bom espaço na MTV (do tempo que a MTV era um canal de música...). Outro grupo que tinha explodido no ano anterior era o Red Hot Chili Peppers, com o disco "Blood Sugar Sex Magik" e o sucesso "Give It Away". Pronto, já tínhamos dois dias de atrações, completadas pelas atrações nacionais Defalla, Biquini Cavadão, Dr. Sin e Engenheiros do Hawaii. Para o terceiro dia, o festival apostou no grupo Simply Red, forte nos anos 80 e que já tinha tocado em uma edição anterior.
Ao contrário da edição anterior, que precisou fazer uma promoção "um ingresso para duas pessoas" para trazer público, nesta edição as atrações foram fortes e conseguiram alavancar as vendas. Todos queriam ver as sensações do momento no rock, em especial o Nirvana, que havia desbancado medalhões do pop no ano anterior, chegando ao topo da parada americana. Na época os ingressos para esses festivais não eram tão caros assim - me lembro perfeitamente de trabalhar ganhando pouco mais que um salário mínimo da época e conseguir comprar para dois dias de festival! Bons tempos aqueles...
O primeiro dia de shows foi uma sexta-feira, e como não consegui liberação no trabalho para sair mais cedo, resolvi debandar depois do almoço, partindo para a Apoteose com meu primo e sua namorada. A primeira atração da noite, Defalla, fez um show morno, pouquíssimos do público conheciam o trabalho desses gaúchos na época (acho que persiste até hoje o desconhecimento...). Um show curto que passou rápido e pouca gente viu. A seguir, o Biquini Cavadão veio com aqueles sucessos que todo mundo cantava na época, em especial "Zé Ninguém" e "Vento Ventania". Agradou o público, mas eu meio que me resguardei para as atrações internacionais. O final do show do Biquini deixou todos na expectativa para a primeira atração internacional da noite - o Alice In Chains, que fazia sucesso na época com o single "Would?", que fez parte da trilha sonora do filme "Singles". Este single saiu do álbum "Dirt", que começava a decolar nos EUA e levou a banda a abrir para Ozzy Osbourne e mais tarde tocar no festival Lollapalooza. Foi um show pesado, sem muitas concessões, com a banda tocando muitas faixas de seu novo disco. Me lembro de muita gente reclamando desse show na época, achando meio arrastado, mas este era o estilo da banda, que só tinha dois grandes sucessos quando veio pela primeira vez ao Brasil - o single citado e "Man In The Box", que levantou o público pra valer. Particularmente, eu adorei o show, já estava curtindo muito o discaço deles na época.
Pra encerrar a primeira noite, uma apresentação inspirada dos Red Hot Chili Peppers, que abriram o show com seu maior sucesso, "Give It Away", levantando totalmente a plateia. Na época, a banda entrava com uns trajes muito doidos, com uns capacetes com labaredas (ver foto abaixo) que impressionavam muito. Naqueles dias, a banda tinha o guitarrista Arik Marshall, que ficou na banda por um curto período de tempo, apenas tocando em shows da turnê que eles faziam nesta época. Flea e Anthony Kiedis conduziram o show com muita movimentação no palco, pulando o tempo todo e agitando bastante. O grande momento do show foi na canção "Higher Ground", quando o vocalista chamou uma intérprete para pedir ao público para tirar as suas camisas e agitá-las no ar (veja o vídeo abaixo). Outro bom momento foi com a balada "Under The Bridge", que encantou a plateia. Depois, achei que a banda se perdeu um pouco, trazendo a bateria de uma escola de samba para tocar com eles no palco. No bis, a banda tocou uma cover de Jimi Hendrix e encerrou o belo show em grande estilo.
Um pouco de sofrimento para conseguir chegar em casa (na época eu morava longe, dependia bastante de ônibus, e o metrô não tinha toda a extensão que tinha hoje, muito menos circulava de madrugada...), e toda uma manhã dormindo para aguentar a noite seguinte, mais grunge ainda. Ao entrar na Apoteose, encontro um monte de amigos que nem sabia que iam no show, e ficamos lá trocando ideias e zoando até a primeira atração adentrar o palco: os desconhecidos (na época) do Dr. Sin. Bem, a gente sabia que os irmãos Busic, ex-Taffo, estavam na empreitada, então eu esperava aquele hard rock açucarado, mas até que a banda se saiu bem e com algumas covers de Led Zeppelin e AC/DC acabaram ganhando o público. A segunda atração da noite, Engenheiros do Hawaii, tinha um rosário de sucessos para deixar o público a seus pés, mas não exatamente o público daquela noite, mais ávido por bandas grunge. Mesmo assim, acabaram fazendo uma boa apresentação, apesar de diversas vaias das alas mais radicais que aguardavam o Nirvana. Na época, a banda ainda tinha aquela formação clássica de trio com Carlos Maltz na bateria e Augusto Licks na guitarra, mas essa formação implodiria em mais alguns meses, e a banda não encontraria mais o mesmo sucesso de antes.
Hora da primeira apresentação gringa - o L7. Banda formada somente por mulheres, mas com um som bastante sujo, flertando com o punk, e alavancadas a um efêmero sucesso graças a terem em seu álbum o mesmo produtor do Nirvana - foi o suficiente para serem taxadas de grunge e serem incluídas no "movimento". A performance da banda foi boa, bastante energética, tentando contagiar o público que conhecia (pouco) apenas as mais conhecidas do disco mais recente da banda na época, "Bricks Are Heavy". Os melhores momentos do show foram quando a banda tocou seu maior sucesso, "Pretend We're Dead" e quando acabaram tocando um trecho de "Enter Sandman", do Metallica, quando a vocalista anunciou que iriam tocar um "samba". O momento de maior empolgação até então no dia, mas a banda mais aguardada de todo o festival estava a caminho...
Sobre o show do Nirvana existiam, na época, duas expectativas diferentes: a expectativa inicial era de o Nirvana realizar aqui no Brasil mais um de seus shows energéticos e explosivos, como os que a banda vinha fazendo em suas turnês lá fora. Porém, depois do show polêmico e totalmente diferente que a banda fez em São Paulo, onde o festival aportou na semana anterior, a expectativa passou a ser: será que teremos mais um show estranho como o de São Paulo ou um show mais normal? Felizmente, a banda seguiu mais ou menos um set list combinado, explorando as melhores canções dos três álbuns lançados até então: "Bleach", "Nevermind" e "Incesticide". A banda abriu com "School", do primeiro disco, e seguiu tocando diversas canções conhecidas, como "Breed", "In Bloom", o mega-sucesso "Come As You Are", "Litihum", "Polly" e por aí foi o show, que teve mais ou menos uma hora e meia de duração. No maior sucesso da banda, "Smells Like Teen Spirit", Flea tocou o solo em um trompete (veja o vídeo abaixo). Mais para o final do show, Kurt resolveu alucinar um pouco e fez sexo com uma das câmeras que registravam a apresentação - tudo isso passando ao vivo pela Rede Globo!! No final, a banda ainda teve tempo de tocar uma cover de "Sweet Emotion", do Aerosmith e encerrar com a arrasa-quarteirão "Territorial Pissings". Uma apresentação muito polêmica na época, já que a banda nunca foi unanimidade, sempre foi muito criticada pela carência técnica dos instrumentistas e pelas loucuras que seu vocalista e guitarrista fazia. Entretanto, estas apresentações se tornaram antológicas e quem viu presenciou um momento histórico da história do rock, sendo construído ali na nossa frente, em nossa cidade. Quem vivenciou pode contar para seus filhos!!
(não falarei sobre o terceiro dia, pois não fui aos shows, mas a apresentação da Midnight Blues Band foi muito comentada e elogiada - aquela banda com membros do Barão Vermelho e Kid Abelha e que tocava clássicos do blues, soul e rock and roll)
O festival se tornou um marco para o Brasil, mostrando que tínhamos condições e público para abrigar apresentações de bandas de sucesso da época, sem necessariamente serem os medalhões que todo mundo estava acostumado a trazer. O festival Hollywood Rock ainda teria mais três edições, todas de muito sucesso - mas estas edições são assunto para outros posts... Fique ligado!!
O palco do Hollywood Rock 1993 |
O primeiro dia de shows foi uma sexta-feira, e como não consegui liberação no trabalho para sair mais cedo, resolvi debandar depois do almoço, partindo para a Apoteose com meu primo e sua namorada. A primeira atração da noite, Defalla, fez um show morno, pouquíssimos do público conheciam o trabalho desses gaúchos na época (acho que persiste até hoje o desconhecimento...). Um show curto que passou rápido e pouca gente viu. A seguir, o Biquini Cavadão veio com aqueles sucessos que todo mundo cantava na época, em especial "Zé Ninguém" e "Vento Ventania". Agradou o público, mas eu meio que me resguardei para as atrações internacionais. O final do show do Biquini deixou todos na expectativa para a primeira atração internacional da noite - o Alice In Chains, que fazia sucesso na época com o single "Would?", que fez parte da trilha sonora do filme "Singles". Este single saiu do álbum "Dirt", que começava a decolar nos EUA e levou a banda a abrir para Ozzy Osbourne e mais tarde tocar no festival Lollapalooza. Foi um show pesado, sem muitas concessões, com a banda tocando muitas faixas de seu novo disco. Me lembro de muita gente reclamando desse show na época, achando meio arrastado, mas este era o estilo da banda, que só tinha dois grandes sucessos quando veio pela primeira vez ao Brasil - o single citado e "Man In The Box", que levantou o público pra valer. Particularmente, eu adorei o show, já estava curtindo muito o discaço deles na época.
O falecido vocalista Laine Staley se apresentando no festival |
Os capacetes com labaredas que o Red Hot usava nos shows da época |
Hora da primeira apresentação gringa - o L7. Banda formada somente por mulheres, mas com um som bastante sujo, flertando com o punk, e alavancadas a um efêmero sucesso graças a terem em seu álbum o mesmo produtor do Nirvana - foi o suficiente para serem taxadas de grunge e serem incluídas no "movimento". A performance da banda foi boa, bastante energética, tentando contagiar o público que conhecia (pouco) apenas as mais conhecidas do disco mais recente da banda na época, "Bricks Are Heavy". Os melhores momentos do show foram quando a banda tocou seu maior sucesso, "Pretend We're Dead" e quando acabaram tocando um trecho de "Enter Sandman", do Metallica, quando a vocalista anunciou que iriam tocar um "samba". O momento de maior empolgação até então no dia, mas a banda mais aguardada de todo o festival estava a caminho...
Kurt Cobain se apresentando no festival brasileiro. Ele e Layne Staley acabariam falecendo e não se apresentariam mais no Brasil |
(não falarei sobre o terceiro dia, pois não fui aos shows, mas a apresentação da Midnight Blues Band foi muito comentada e elogiada - aquela banda com membros do Barão Vermelho e Kid Abelha e que tocava clássicos do blues, soul e rock and roll)
O festival se tornou um marco para o Brasil, mostrando que tínhamos condições e público para abrigar apresentações de bandas de sucesso da época, sem necessariamente serem os medalhões que todo mundo estava acostumado a trazer. O festival Hollywood Rock ainda teria mais três edições, todas de muito sucesso - mas estas edições são assunto para outros posts... Fique ligado!!
Line-up de cada dia:
Praça da Apoteose (em São Paulo, os shows aconteceram na semana anterior)
22 de janeiro de 1993: Defalla, Biquini Cavadão, Alice In Chains e Red Hot Chili Peppers.
23 de janeiro de 1993: Dr. Sin, Engenheiros do Hawaii, L7 e Nirvana.
24 de janeiro de 1993: Midnight Blues Band, Maxi Priest e Simply Red.
Alguns vídeos:
Alice In Chains - "Man In The Box", ainda com o falecido Laine Staley (que saudade...):
Red Hot Chili Peppers - "Higher Ground", todo o público girando camisas:
L7 - trecho de "Enter Sandman", do Metallica, com zoação na letra:
Nirvana - "Smells Like Teen Spirit", com participação de Flea, dos Red Hot Chili Peppers: