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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Dez anos atrás: A primeira turnê do Rush pelo Brasil

Este post vai relembrar a primeira turnê do Rush pelo Brasil, em 2002, uma turnê memorável que deixou muita saudade (parcialmente saciada com a turnê de 2010), e também nos deixou um DVD com o registro do show no Rio de Janeiro, e este escriba lá estava e irei agora relatar minhas sensações e lembranças daquela maravilhosa tarde e noite de sábado, dia 23 de novembro de 2002. Vamos lá!!

Antes de mais nada, vamos contextualizar a situação que era imaginar um show do Rush no Brasil: a banda não costumava excursionar muito fora do circuito Canadá-EUA. Até mesmo a Europa recebia poucos shows do trio. Portanto, esperar um show da banda no nosso Brasil era sonhar muito alto... Adicione-se a isto a grande tragédia que abateu o baterista Neil Peart: pouco depois do encerramento da turnê do álbum "Test For Echo" (que acabou se tornando o álbum ao vivo "Different Stages"), sua filha veio a falecer de um acidente de carro. Apenas dez meses depois, sua esposa sucumbiu ao câncer e também faleceu. A banda entrou num hiato indefinido, e os fãs brasileiros sentiram em sues corações que ver a banda preferida ao vivo tinha ficado quase impossível... Neil pegou sua motocicleta e viajou quase 55 mil quilômetros pelos EUA, Canadá e América Central para se recuperar (ele escreveu um livro sobre esta jornada, chamado "Ghost Rider: Travels On The Healing Road").

Em 2000, Peart se casou novamente e se reaproximou dos seus companheiros de banda, e eles voltaram a ensaiar e planejar um novo álbum: "Vapor Trails", disco de número 17 na carreira da banda, que se revelou um álbum pesado, especialmente o primeiro single do disco, "One Little Victory". A turnê começou no final de junho, nos EUA, varreu toda a América do Norte e Canadá, teve o primeiro show da banda no México (5 de outubro de 2002, Foro Sol) e a primeira turnê no nosso país (ver as datas abaixo). Em setembro, uma notícia ventilou a turnê e os boatos correram e a expectativa tomou conta de todos os fãs e entusiastas do grupo. A confirmação aconteceu e os ingressos começaram a ser vendidos - devo ter sido um dos primeiros a comprar!! (era bem mais fácil: o preço não era o roubo que temos hoje em dia - custou R$ 60,00 - e a ticketmaster não estava cobrando taxa de conveniência na época...) A ansiedade era grande e, pra completar toda a alegria, ainda veio a notícia de que o show do Rio de Janeiro seria gravado para posterior lançamento em DVD!!

Meu canhoto do ingresso deste maravilhoso show do Rush, já desbotado
Lembro-me perfeitamente daquele sábado do ano de 2002. Passei a manhã e a tarde numa ansiedade tremenda, escutando muito os discos ao vivo da banda, entrando no clima. No final da tarde, fui pra estação de metrô, rumo ao Maracanã - eu e mais dois grandes amigos. A entrada no estádio foi bem tranquila, sem confusão nem muitas revistas. Ao adentrar, por volta de 19h, já havia um bom público presente, que foi aumentando a medida que se aproximava a hora do show. Percebia-se claramente que a ansiedade da grande maioria era grande - uns roíam as unhas, outros entornavam latinhas de cerveja pra passar o tempo até a hora do tão esperado show.

Sim, houve atraso para o show começar - naquela época, os atrasos eram naturais em shows internacionais e o público nem ligava tanto - mas, quando começou, todo o público transformou a ansiedade em empolgação ao ouvir os primeiros acordes de "Tom Sawyer". Todo mundo se extasiou, pulou, vibrou, cantou todos os versos junto, parecia um gol de final de campeonato mundial. Nas imagens do DVD dá pra perceber vários fàs agradecendo aos céus quando o show começa - este era o clima que cercava esta apresentação! A seguir, a banda explorou duas músicas da fase mais eletrônica, que nem todos curtem/conhecem. Rolou também uma canção nova (na época), "Earthshine", nesta primeira sequência. A seguir, o momento mais sensacional do show: "Yyz", uma canção instrumental que foi "cantada" pela plateia, deixando o trio visivelmente impressionado - toda vez que vejo essa parte do show fico arrepiado!! A primeira parte do show ainda contaria com grandes momentos, como as canções mais acústicas "The Trees" e "Closer To The Heart" (Geddy Lee anunciou antes que a banda iria tocá-la pois o público realmente gostava desta canção - e realmente, ela foi tocada em poucos shows da turnê - apenas México, Brasil e mais dois shows). Depois desta primeira parte, a banda parou pra descansar por cerca de vinte minutos.

Neil Peart em ação no show
Quando as luzes se apagaram novamente, um vídeo bem legal de introdução com um dragão cuspindo fogo anunciou "One Little Victory", a conhecida do novo álbum, pesada, pra trazer de volta o público para o climão do show, com direito a pirotecnia de grandes labaredas no palco. Novamente a escolha por explorar canções mais recentes do repertório neste começo, incluindo músicas do disco sendo promovido na época. A sequência com "Dreamline" e "Red Sector A" animaram bastante e precederam um dos momentos mais esperados por todos: o solo de bateria. Se em muitas apresentações este solo é utilizado para idas ao banheiro ou ao bar, não em um show do Rush. Aqui, as atenções se redobram para acompanhar a apresentação de Neil Peart. Depois do solo, um momento acústico especial apenas com Geddy e Alex tocando a belíssima "Resist", e em seguida começa o desfile de grandes clássicos da banda, na parte derradeira e mais emocionante do show: duas partes de "2112", "Limelight", "La Villa Strangiato""The Spirit Of Radio", sequência fantástica que me deixou extasiado demais. A volta para o bis trouxe mais clássicos até o momento final com a grande "Working Man", do primeiro disco da banda. Após quase três horas de show, todos saíram extenuados porém extremamente felizes, satisfeitos, realizados em ver o grande power trio progressivo finalmente ao vivo. Mais do que parte do público do show, fomos testemunhas do grande acontecimento que foi a primeira turnê do Rush no Brasil.

Curiosidades: primeiro: havia máquinas de lavar em pleno funcionamento durante o show; somente no final conseguimos ver o objetivo: a banda tirou algumas camisas da turnê e jogou para a plateia. Segundo: este show no Rio de Janeiro não foi o maior público da turnê - o maior ocorreu em São Paulo, no Morumbi, no dia anterior - 60 mil pessoas, recorde de público para a banda. Pois é, o tempo passou, a economia brasileira melhorou (e as outras pioraram...), as turnês passaram a incluir constantemente nosso país no roteiro e o Rush também voltou: depois de oito anos, retornou e mais uma vez nos presenteou com um longo e maravilhoso show. Entretanto, esta é uma outra história... (se quiser saber mais sobre o show do Rush no Rio de Janeiro em 2010, veja este post)

As datas da turnê brasileira:
20/11/2002 - Porto Alegre (Estádio Olímpico)
22/11/2002 - São Paulo (Morumbi - 60 mil pessoas presentes)
23/11/2002 - Rio de Janeiro (Maracanã - 40 mil pessoas presentes)

Eis o maravilhoso set list executado pelo trio mais virtuoso da história do rock naquele histórico dia:
1 - "Tom Sawyer"
2 - "Distant Early Warning"
3 - "New World Man"
4 - "Roll The Bones"
5 - "Earthshine"
6 - "YYZ"
7 - "The Pass"
8 - "Bravado"
9 - "The Big Money"
10 - "The Trees"
11 - "Freewill"
12 - "Closer To The Heart"
13 - "Natural Science"
(intervalo de vinte a trinta minutos)
14 - "One Little Victory"
15 - "Driven"
16 - "Ghost Rider"
17 - "Secret Touch"
18 - "Dreamline"
19 - "Red Sector A"
20 - "Leave That Thing Alone"
21 - "O Baterista (Drum Solo)"
22 - "Resist"
23 - "2112 (Overture/The Temples Of Syrinx)"
24 - "Limelight"
25 - "La Villa Strangiato"
26 - "The Spirit Of Radio"
Bis:
27 - "By-Tor And The Snow Dog"
28 - "Cygnus X-1"
29 - "Working Man"

Alguns vídeos deste show:

"Tom Sawyer" (abertura do show):

"Yyz":

"2112 & Limelight":

Solo do baterista Neil Peart:

Feliz ano novo com muito rock and roll para todos os leitores do blog Ripando a História do Rock. O blog caminha para o seu quarto ano, firme e forte!!