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sexta-feira, 17 de junho de 2011

O Réptil de Eric Clapton


Já falamos de três anos separados cada um por dez anos: 1971, 1981 e 1991. Todos recheados de fantásticos lançamentos dentro do rock. Falamos destes anos em três posts que você pode conferir aqui no blog. Em 2001, dez anos atrás, poucos discos de qualidade foram lançados. Um deles, um incrível álbum, acabou nos trazendo em turnê novamente ao Brasil um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Falamos do disco "Reptile", de Eric Clapton. O deus da guitarra está de viagem marcada novamente para o nosso país e neste post iremos dissecar este álbum de 2001.

Antes de falar do álbum em si, vamos nos posicionar sobre a história do deus da guitarra na época. Clapton começou a década anterior (anos 90) vivendo a perda: primeiro, depois de participação em um show seu, o amigo Stevie Ray Vaughan, um dos maiores talentos do blues norte-americano, acaba falecendo em um acidente de helicóptero, no dia 27 de agosto de 1990. Poucos meses depois, seu filho Conor falece após uma queda do 53º andar de um apartamento em Nova Iorque. O guitarrista lança a fantástica canção "Tears In Heaven" em homenagem a seu filho no ano seguinte, e acaba abocanhando alguns Grammys por ela e também pelo incrível disco "Unplugged". Como dizem que os melhores blues são gravados na desgraça e na tristeza (acho que o próprio Clapton já disse isso), ele grava um fantástico disco com grandes clássicos do estilo, "From The Cradle", em 1994. Outro disco de estúdio só sairia em 1998, "Pilgrim", este de qualidade mais duvidosa, graças ao experimentos com bateria, sintetizadores e tais. Para se redimir, nosso grande guitarrista resolve lançar, no ano 2000, um maravilhoso disco ao lado de outra lenda: é "Riding With The King", parceria com B.B. King, um sucesso que chegou à terceira posição na parada americana. O ano 2000 ainda viu Eric Clapton entrar pela terceira vez no Rock N' Roll Hall Of Fame: depois de ser agraciado com a homenagem como membro dos Yardbirds e do Cream, ele se torna um membro do hall por sua carreira solo. Nada mais justo!!

Eric Clapton com sua viola, tocando ao vivo
Ainda no ano 2000, Clapton começou as gravações de seu próximo disco de estúdio. Ele se cerca novamente de músicos de renome, uma banda de grandes talentos: Steve Gadd na bateria (já tocou com Paul McCartney, James Taylor e outras feras); Billy Preston nos teclados (esse é muito fera, já tocou com Beatles, Rolling Stones, dentre muitos outros); Nathan East no baixo (está com Eric Clapton há longo tempo, desde os anos 80); Doyle Bramhall II na guitarra (é aquele guitarrista canhoto que toca no DVD "In The Flesh Live" de Roger Waters); Andy Fairweather Low também na guitarra (outro que também tocou no DVD de Roger Waters, já tocou também com o The Who e está com Clapton desde o começo dos anos 90); além de outros membros menos conhecidos. No repertório do álbum, nosso guitarrista junta algumas composições suas com alguns covers interessantes: "Travelin' Light", de J.J. Cale (Clapton gosta tanto de Cale que acabou gravando um disco com ele em 2006 - "The Road To Escondido"; o disco é muito bom...); "Come Back Baby", de Ray Charles; "I Ain't Gonna Stand For It", de Stevie Wonder; e "Don't Let Me Be Lonely Tonight", de James Taylor. O álbum foi lançado no dia 13 de março de 2001, e alcançou a quinta posição na parada americana e a sétima posição na parada britânica (só voltaria a alcançar sucesso similar com o seu último lançamento, "Clapton", de 2010). Vamos a minha impressão, faixa a faixa:

1 - Reptile - a música de abertura do disco (uma instrumental) também foi utilizada para abrir os shows da turnê, que começavam em um formato acústico. É uma clara influência de música brasileira, e li em algum lugar que não lembro agora onde que foi feita em homenagem a João Gilberto. Composição primorosa de Clapton!
2 - Got You On My Mind - agora temos um blueszinho delicioso, típico dos discos de Clapton. Quase toda em formato acústico (incluindo o solo), com alguns detalhes de guitarra para florear. A letra da música acaba ficando na tua cabeça e o disco começa a decolar...
3 - Travelin' Light - mais uma cover que Clapton faz para uma música de J.J. Cale (a mais famosa, claro, é "Cocaine"). Sua levada de guitarra e seu ritmo calmo me lembram Mark Knopfler - pode ser considerado um elogio porque Knopfler tem talento de sobra, assim como nosso deus da guitarra.
4 - Believe In Life - mais uma composição de Clapton que transborda talento, numa levada calma e gostosa de ouvir. O disco segue com qualidade alta...
5 - Come Back Baby - esta cover de Ray Charles, um artista fantástico, ficou um blueszaço, cheio de inspiração e emoção. O solo é para aqueles que gostam de um estilo de pouca ginástica e muito feeling, que só Clapton pode nos dar.
6 - Broken Down - esta foi composta pelo produtor Simon Climie, . Clapton usa aquela voz puxando na rouquidão e ataca com um solo acústico, alcançando um resultado excelente.
7 - Find Myself - esta composição de Clapton parece sair de alguma trilha sonora de filme de época. Até aqui, seria a mais fraquinha do disco, mas nem é tão ruim assim, já que o homem floreia a música com sua guitarra, deixando o resultado até legalzinho.
8 - I Ain't Gonna Stand For It - esta cover de Stevie Wonder traz um refrão pegajoso, numa levada de guitarra combinada com um arranjo de piano muito interessantes. E a música vai num crescente, com os instrumentos se revezando e se destacando (tem uma levada de baixo bacana, Nathan East arrebentou nesta). Um dos destaques do disco!
9 - I Want A Little Girl - suavidade, muito feeling, uma música de grandes qualidades levada basicamente no teclado fantástico de Billy Preston, complementado pelas guitarras. A voz rouca de Clapton melhora ainda mais. Outro grande destaque do disco.
10 - Second Nature - uma música simples, que acaba ficando melhor pelos arranjos da banda, mas a canção acaba sendo ofuscada por tantas outras de enorme qualidade.
11- Don't Let Me Be Lonely Tonight - confesso que não suporto a cara do James Taylor, compositor desta canção. Aquela fofura toda dele no primeiro Rock In Rio não me agradou nem um pouco. Mas o cara tem seus talentos, já participou bem de um disco solo do Mark Knopfler ("Sailing To Philadelphia") e aqui empresta esta bela composição para Eric Clapton, que colocou belos arranjos e emoção nesta interpretação, com um belíssimo resultado. Aturemos então seu Taylor, senhor fofo em pessoa...
12 - Modern Girl - uma levada bem acústica e tranquila, de qualidade excelente, mais uma aliás. Na época de lançamento deste álbum, muitos da crítica reclamaram. Não sei como, com tanta qualidade...
13 - Superman Inside - esta é a música mais rock and roll do disco. Como ex-membro de um dos maiores power trios da história do rock (Cream), poderia ser muito melhor. Mas a levada agrada, tem boa melodia e refrão, acaba sendo uma preferida minha.
14 - Son & Sylvia - pra fechar o disco, suavidade de qualidade nesta música instrumental. Acabamos de relembrar um dos grandes discos da carreira de Eric Clapton, um de diversos álbuns!!

A turnê de promoção do disco varreu o planeta, passando pelo Brasil em outubro de 2001, no Rio de Janeiro (Apoteose), São Paulo (Pacaembu) e Porto Alegre (Estádio Olímpico). Tive o privilégio de assistir ao deus da guitarra neste show da Apoteose, e foi excelente!! Confira neste link aqui o set list do show.

Um abraço rock and roll!!