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terça-feira, 10 de abril de 2018

1988 - chega ao fim o auge do rock nacional

Depois de relembrar os lançamentos internacionais de trinta anos atrás, voltamos nossas atenções para os grandes lançamentos do rock nacional. Depois de dois grandes anos de lançamentos, 1988 começou a mostrar certo declínio de vendas do rock nacional, apesar de trazer muita coisa boa sendo lançada. Vamos lá conferir esses lançamentos!!


Neste ano de 1988, a economia do Brasil continuava sofrível, com inflação galopante - algo em torno de 20% ao mês, chegando quase a 30% no mês de dezembro. A Assembleia Constituinte estava a todo vapor, e em outubro acabou promulgando a nossa atual Constituição. Logo em janeiro, tivemos a primeira edição do festival Hollywood Rock, que trouxe grandes nomes do rock internacional - Pretenders, Simple Minds, Supertramp, entre outros - e dando espaço a diversas bandas do rock nacional, como Ira!, Titãs, Paralamas e outros. Tivemos nossas tragédias, com a morte de Chico Mendes e o naufrágio do Bateau Mouche, mas também tivemos nossas alegrias, como o primeiro título do grande Ayrton Senna. O rock nacional já mostrava ter alcançado o seu auge e começava seu declínio. Tirando os grandes medalhões, as demais bandas que surfaram na grande onda de sucesso inicial já começariam a ter vendas irrisórias e seriam rapidamente esquecidas pelas gravadoras.

Vamos lá recordar alguns belos lançamentos do rock nacional em 1988!!


Os Paralamas do Sucesso -  "Bora-Bora" - este quarto álbum de estúdio dos Paralamas avança por novos terrenos, adicionando metais definitivamente à sonoridade da banda, explorando também os sentimentos de Herbert Vianna, que tinha terminado seu romance com Paula Toller. A banda assumiu a produção do álbum ao lado do produtor Carlos Savalla, e aumentou ainda mais seu poder e importância na cena do rock Brasil. Algumas canções do álbum se tornaram grandes sucessos da carreira da banda: "O Beco", "Quase Um Segundo" e "Uns Dias". Destaque também para a faixa-título, a instrumental "Bundalelê" e para a faixa "Três". A banda sofreria na década seguinte, com pouco sucesso no Brasil, mas ganharia reconhecimento nos países vizinhos, em especial na Argentina. Ano passado, os Paralamas do Sucesso voltaram a lançar um álbum de estúdio, "Sinais do Sim",depois de quase dez anos sem lançar nada novo!

Titãs - "Go Back" - depois de lançar dois de seus maiores álbuns de estúdio, a banda estava em alta e aproveitou para tocar no exterior, no Festival de Montreux, onde este álbum foi gravado. A banda concentrou o repertório nesses dois álbuns, mas aproveitou para dar nova roupagem a algumas músicas antigas, incluindo a faixa-título, "Pavimentação", "Massacre", "Não Vou Me Adaptar" e o grande sucesso do álbum, a versão mais conhecida para "Marvin (Patches)" (originalmente lançada no primeiro disco da banda, de 1984), que aumentou ainda mais a popularidade da banda no Brasil. Com muitas turnês Brasil afora, os Titãs rivalizariam com a Legião Urbana e os Paralamas do Sucesso como a maior banda de rock do país. Nos anos 90, a banda sofreria com algumas baixas em sua formação, mas alcançaria ainda mais sucesso. Papo para outros posts!!

Engenheiros do Hawaii - "Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém" - depois de estourar com o álbum anterior, os Engenheiros do Hawaii conseguiram consolidar seu sucesso com mais um disco bem sucedido e continuando a sonoridade iniciada com o disco anterior. Destaque para a faixa-título e para as canções "Cidade Em Chamas", "Somos Quem Podemos Ser" e "Tribos E Tribunais". Com o sucesso consolidado, a banda resolve se mudar para o Rio de Janeiro, para estar no centro dos acontecimentos culturais do país. A turnê de divulgação do álbum percorreu o país e acabou sendo registrada: o show realizado no Canecão seria a base do próximo álbum da banda, ao vivo, com duas canções inéditas. Papo para o post de 1989!!

Plebe Rude - "Plebe Rude" - depois do excelente "Nunca Fomos Tão Brasileiros", boas vendas e muitos shows Brasil afora, era de se esperar que a Plebe Rude tivesse boa reputação e espaço para divulgar seu terceiro trabalho, o mais eclético até então. Não foi o que aconteceu. Talvez por ser o último álbum do contrato com a EMI, talvez pela postura independente da banda, o então novo disco foi solenemente ignorado, muito pouco divulgado, e juntando tudo isso com a crise econômica que o Brasil vivia, as vendas foram pequenas. Uma pena, trata-se de um bom disco, com influências regionais e composições maduras que poderiam ter feito sucesso na época. Destaque para as canções "Plebiscito", "Um Outro Lugar", "O Traço Que Separa" e "Repente" (esta última uma épica canção falando sobre as diversas regiões do Brasil). A falta de sucesso e apoio faria com que o vocalista Jander saísse da banda, só retornando em 1999, quando a formação clássica se reuniu e gravou o álbum ao vivo "Enquanto A Trégua Não Vem". Viva a Plebe Rude, a banda mais íntegra do rock nacional!!

Picassos Falsos - "Supercarioca" - depois da boa recepção ao primeiro álbum, os Picassos Falsos partiram para a gravação deste disco, muito mais eclético que o primeiro, trazendo muitas influências de música brasileira, e acabou sendo um grande sucesso de crítica, pela inovação nas composições. Destaques para a abertura com "Retinas", uma espécie de baião com guitarras gritantes; "Bolero", com uma levada meio hipnótica, "Wolverine", "O Homem Que Não Vendeu Sua Alma" e também a faixa-título. Apesar de ter sua qualidade reconhecida pela crítica, o público não curtiu tanto, e a gravadora não ajudou tanto na divulgação, o que acabou causando a dispensa da banda e posteriormente o seu fim. Tiveram um retorno no começo dos anos 2000, e a banda vem se mantendo na ativa, na medida do possível, tendo lançado um álbum no ano passado. Longa vida para esta bela banda nacional dos anos 80!!

RPM - "RPM" - depois de anunciar a separação no ano anterior, o RPM mudou de ideia e acabou retornando e lançando um novo álbum de estúdio. A força do nome da banda acabou não sendo o suficiente para fazer o sucesso estrondoso dos discos anteriores retornar. O álbum não era de fácil assimilação, acabou não agradando muito, e as músicas acabaram não vingando nas rádios. Algum destaque para "A Dália Negra", "Um Caso de Amor Assim" e "Ponto de Fuga". A falta de sucesso acabou causando uma nova separação do grupo, que só retornou no começo dos anos 2000. Um novo álbum de estúdio só foi lançado em 2011. A banda nunca mais conseguiu repetir aquele sucesso repentino do meio dos anos 80, e excursiona mais ou menos como as demais bandas de seu tempo: revivendo os sucessos de outrora. O rock nacional, há muito tempo, não manda nas paradas de sucessos do Brasil...

Lobão - "Cuidado!" - depois do sucesso estrondoso do álbum anterior, "Vida Bandida", Lobão se aprofundou em suas influências no samba-rock, com parcerias com Ivo Meirelles, além da já firme parceria com Bernardo Vilhena. O samba toma conta na faixa-título e em "Síndrome de Brega", mas o rock se faz presente em faixas como "O Eleito" (crítica política) e "É Tudo Pose". As belas baladas também dizem presente com "Por Tudo Que For", um sucesso da época. O sucesso de Lobão faria ele participar do Hollywood Rock em 1990, e depois seria escalado para o segundo Rock In Rio, onde iria ser protagonista de uma vaia histórica: escalado para o dia metal, resolveu provocar e levou a bateria da Mangueira para tocar com ele. Mal conseguiu tocar uma música, acabou expulso do palco pela horda metaleira, que não tolerou a provocação. Atualmente, Lobão vem sofrendo com posições políticas polêmicas, um tanto quanto extremas, apesar de manter o talento musical habitual. Vamos combinar: deixemos a política de lado um pouco e vamos respeitar o grande músico que Lobão é!!

Capital Inicial - "Você Não Precisa Entender" - este terceiro álbum do Capital Inicial trouxe uma musicalidade distante do rock do disco de estreia, aumentando a importância dos teclados e até abrindo espaço para instrumentos de sopro. Com sonoridade tão diluída, o álbum sempre me pareceu um peixe fora d'água na discografia da banda. Apesar dos pesares, a canção "Fogo" fez muito sucesso nas rádios e impulsionou as vendas do álbum, impedindo o fracasso total. Outros destaques ficam para "Movimento", "Ficção Científica" (canção antiga composta por Renato Russo, da época do Aborto Elétrico) e "O Céu". O próximo álbum da banda retornaria para a sonoridade mais próxima da banda. Papo para o post de 1989!!

Ira! - "Psicoacústica" - muitas vendas, música como tema de novela, o Ira! passou os anos de 1986 e 1987 fazendo muito sucesso e também excursionando muito. Quando finalmente retornou ao estúdio, a banda inovou e lançou um álbum avançado, canções passeando por vários estilos e ainda assim mantendo uma unidade, entretanto sem força comercial, o que acabou causando baixas vendagens do álbum. Apesar das poucas vendas, o disco foi aclamado pela crítica, sendo considerado um dos melhores deste ano de 1988 (entre os citados aqui, é meu favorito disparado). Logo na abertura, o Ira! cospe um de seus grandes clássicos, "Rubro Zorro", até hoje presente nos shows da banda. "Manhãs de Domingo" e "Poder, Sorriso, Fama" são composições mais tradicionais, dignas e empolgantes, mantendo o ouvinte empolgado com a bolacha. Os dois principais sucessos do disco, "Receita Para Se Fazer Um Herói" e "Pegue Essa Arma" são completamente diferentes entre si, a primeira com uma levada meio reggae e a segunda, pesada e suja, com a guitarra de Edgard Scandurra mandando ver. A guitarra continua mandando em "Farto do Rock 'n' Roll", com um belo riff. "Advogado do Diabo" traz uma levada com influência de rap, e o álbum se encerra com "Mesmo Distante", uma levada acústica de primeira. Um dos grandes álbuns do rock brasileiro, completando trinta anos!!

Lulu Santos - "Toda Forma De Amor" - neste álbum, sexto na carreira do cantor, Lulu Santos resolveu assumir a produção, e conseguiu um belo resultado, seguindo sua fórmula de pop rock com muito sucesso e propriedade, reforçando seu nome na cena musical brasileira. Destaque maior para a faixa-título e também para "Satisfação" e "A Cura", algumas das músicas mais executadas do ano de 1988. Lulu iria migrar para ritmos dance e funk nos anos 90, alcançando um sucesso ainda maior e se consagrando como o cantor mais popular do seu tempo. Atualmente, ainda é jurado do programa "The Voice", o que aumentou a exibição de sua imagem, e suas turnês tem sido ainda mais lucrativas!

Barão Vermelho - "Carnaval" - falamos sobre os dois álbuns do Barão Vermelho sem Cazuza, nos dois anos anteriores: "Declare Guerra" e "Rock'n Geral", ambos vendendo abaixo do que a banda conseguiu alcançar antes da saída de seu vocalista. A batalha para voltar a crescer continuava, e a banda conseguiu dar um grande passo com este álbum. Antes, teve que lidar com a saída do tecladista Maurício Barros, que se sentiu desprestigiado e sem tesão na banda. O álbum traz um Barão inspirado, bem roqueiro, entrosado, com parcerias importantes de composição - os Titãs Arnaldo Antunes e Paulo Miklos; e Humberto Gessinger, dos Engenheiros do Hawaii - e trazendo Fernando Magalhães e Peninha tocando em todas as faixas. O maior sucesso por este renascimento é a canção "Pense e Dance", que foi parte da trilha sonora de uma novela e alavancou as vendas do disco. Outros destaques ficam para as faixas "Não Me Acabo", "Nunca Existiu Pecado" e "Rock da Descerebração". A banda iria excursionar intensamente para promover o álbum, e acabaria gravando um álbum ao vivo que seria outro marco na retomada da banda no cenário nacional!

Cazuza - "Ideologia" e "O Tempo Não Para" - depois de um tratamento nos EUA para tentar conter a AIDS, Cazuza retornou ao Brasil renovado e iniciou as gravações deste álbum, talvez o melhor de sua carreira solo. A amizade com Frejat já tinha sido retomada, e ele é um dos principais parceiros de composição no disco, ao lado de George Israel, Ritchie, o ex-baixista Dé do Barão e até Gilberto Gil. A faixa-título foi a primeira a ser divulgada, e foi um sucesso grandioso, com uma letra ácida e atual até hoje. "Brasil" segue pelo mesmo caminho, e acaba como tema principal de uma das principais novelas da Globo, em uma versão de Gal Costa. "Boas Novas", "Blues da Piedade" e "Faz Parte do Meu Show" são outros destaques do álbum. Aproveitando a boa disposição, Cazuza parte para uma grande turnê, bem elaborada e dirigida por Ney Matogrosso. O show no Canecão, no Rio de Janeiro, foi gravado e resultou no álbum ao vivo, que inclui suas principais canções da carreira solo, além de "Vida Louca Vida", de Lobão, e "O Tempo Não Para", composição em parceria com Arnaldo Brandão. Sucesso absoluto, emocionante por ter proporcionado uma imagem fragilizada do ídolo tão cheio de vitalidade em anos passados. Os últimos momentos de glória de um grande ídolo da geração BRock dos anos 80!!

Mais um post sobre o rock nacional dos anos 80 chega ao fim. Espero que tenham curtido, deixem suas impressões, alguma ausência que vocês lembrem, os comentários estão aí pra isso. Um abraço rock and roll e até o próximo post!!

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